Crítica e cítrica | com Bruno Cava

10.set.18

Como parte dos programas públicos da exposição “Caixa-Preta”, o Seminário “Sobre acidentes e caixas-pretas do passado, do presente e do futuro” reúne historiadores, psicanalistas, filósofos, curadores e outros especialistas buscando analisar as relações entre arte, política, ciência e história.

No sábado 15/09, às 16h, Bruno Cava irá explorar o tema “Crítica e cítrica”, debatendo uma crítica que, por um lado, denuncia os efeitos totalitários do espetáculo, consumismo ou neoliberalismo dissimula a sua própria inutilidade enquanto crítica: se o Poder é total e pervasivo, não estaria a crítica assimilada a essa mesma paisagem escatológica, sendo varrida pela ironia pós-moderna? Por outro lado, a suspensão de qualquer crítica se confunde com o elogio do contemporâneo, numa apologia dos fluxos semióticos. A contrapartida simétrica da corrosão autoirônica é a indiferença cínica, o jogo dos signos por si mesmo. O programa da crítica enquanto cítrica — delineado pelo Nietzsche da Segunda Consideração Intempestiva, o Agrippino de Paula de “PanAmérica”, o Deleuze da popfilosofia e a Pop Art de Warhol, entre outras referências — sai pela diagonal do impasse, para afirmar uma segunda via: uma renovada ars contemplativa, mantendo a crítica na mais baixa intensidade possível, na imanência do campo social, das formações atualizadas crivadas por binarismos, linhas de segmentariedade e linhas de fugas por todos os lados. É aí que se passa da crítica teórica à efetiva práxis de uma teoria cítrica. Os modos de um juízo crítico dissolvido ou indiferente dão lugar a uma possibilidade de crítica ainda mais insidiosa e radical, que atesta sua pertença ao real fazendo série com ele.

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Seminário “Sobre acidentes e caixas-pretas do passado, do presente e do futuro”

Mesmo quando nenhum acidente acontece, a caixa-preta é uma espécie de secreto e inquietante companheiro de viagem, que sempre está lá, sem que os passageiros saibam muito bem onde, a registrar exatamente o não-acontecimento, mas já aí como entrevisão da possibilidade da catástrofe. Na caixa-preta, coexistem, portanto, informação decisiva (o que realmente aconteceu) e excesso semiótico (o máximo de sinais pode equivaler, na ausência de acidente, ao mínimo de significado).

Este seminário toma a caixa-preta como metáfora para pensarmos as relações entre arte, política, ciência e história – e mais especificamente entre algumas obras de arte e o atual momento político do país e do mundo, mas também entre essas obras e o próprio sistema das artes. É generalizada a percepção de estarmos vivendo um momento de crise (crise política, crise econômica, crise da “representação”, crise dos “valores” etc.), assim como é generalizada também a sensação de uma certa apatia que não seria condizente com a violência dessa crise múltipla. Em que medida, podemos nos perguntar, essa aparente apatia não esconde formas mais sutis de reação e registro, condizentes com uma noção de história – do mundo, mas também da própria arte – como sucessão de acidentes?

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Bruno Cava é professor de cursos livres no Rio de Janeiro, lecionando em instituições como Museu da República, Cinemateca Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM e Casa de Rui Barbosa, blogueiro do quadradodosloucos.com.br e editor da Revista Lugar Comum. É graduado em Engenharia (ITA) e Direito (UERJ), mestre em Direito na linha de pesquisa Teoria e Filosofia do Direito (UERJ). Participa da rede Universidade Nômade há mais de dez anos, com quem empreende copesquisa de movimentos e lutas urbanas. Escreveu, entre outros livros, A multidão foi ao deserto (São Paulo: Annablume, 2013), traduzido ao espanhol pela ed. Quadrata e Pie de los Hechos (2016). Em 2017, lançou em coautoria com Alexandre Mendes o livro A constituição do comum (Rio de Janeiro: Revan). Em 2018, Bruno Cava lançará as obras “Pensar a Netflix: séries de popfilosofia e política” (organizado com Murilo Duarte Costa Corrêa, editora D´Plácido) e “Enigma do disforme” (autor, com Giuseppe Cocco, editora Mauad).

 

Imagem: Wilfredo Prieto. Caja Negra, 2017. Cortesia da Mendes Wood DM São Paulo, Brussels, New York. Copyright do Artista. Foto Bruno Leão