Mostra | Zona de Crepúsculo, de Pablo Pijnappel

06.nov.18

Como parte da programação em comemoração aos 10 anos de construção de seu edifício sede, a Fundação Iberê apresenta a mostra Zona de Crepúsculo, de Pablo Pijnappel. Quatro obras do artista e uma nova performance comissionada ocuparão a instituição, utilizando seus espaços menos regulares, dialogando com a premiada arquitetura do prédio de Álvaro Siza. De maneira quase que intervencionista, as obras tratarão o edifício como um centro de narrativas que usam seu principal traço arquitetônico, a rampa em espiral à la Guggenheim de Frank Lloyd Right, como uma alegoria visual do mecanismo da memória.

A mostra tem financiamento do Mondriaan Fund, fundo público que fomenta a produção e apresentação da arte e do patrimônio cultural da Holanda, localmente ou no exterior.

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PABLO PIJNAPPEL

Tendo psicanálise e literatura como pontos de partida habituais, as obras de Pablo Pijnappel são sem exceção meta-narrativas que combinam poeticamente identidades culturais, históricas e ancestrais, pelo prisma da memória. A linguagem sempre desempenha o papel principal, unindo os mecanismos mentais e o mundo, em instalações de vídeo, textos ou performances que estão na encruzilhada entre o cinema, a fotografia e os recessos de um romance.

Nascido em um subúrbio de Paris, Pijnappel cresceu no Rio de Janeiro e, mais tarde, estudou na Holanda. Agora vive e trabalha entre o Rio, Roterdã e Berlim. Já participou de inúmeras exposições coletivas e individuais em diversos espaços nas principais capitais da Europa e dos EUA, com destaque para o Centre Pompidou, Whitechapel Gallery, Konsthall Malmö, Artists Space, LACE, entre outros. Também fez parte da XXX Bienal de São Paulo.

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PROGRAMAÇÃO

10 de novembro, sábado, às 16:00
Não Gosto de Ir ao Cinema – Sessão de filmes 16 mm no Auditório da FIC, seguida de conversa com o artista.

Rio (2005), 16 mm, 5 min
Ensaio em imagem-movimento que (re)imagina a Cidade Maravilhosa como um reduto de gringos aventureiros perdidos, uma espécie de porto de piratas contemporâneo; o filme forma um pano de fundo e um palco para possíveis narrativas transnacionais que tem como cerne a busca pela identidade.

Quirijn (2011), 16 mm, 20 min, mudo com legendas
Exemplificando o retrato de um estrangeiro camusiano, o filme é um pseudo-documentário segue um recluso que conscientemente se afastou da promessa vazia e monótona do capitalismo, rejeitando trabalho em favor da leitura e de passeios sem rumo nos arredores de Berlim, circunscrevendo sua história ao mesmo tempo que o protagonista traça uma cartografia urbana com seus passos.

Lucas (2013), 16 mm, 12 min
A história de um turista brasileiro em Buenos Aires é contada através de uma série de imagens realizadas diante da câmera pelo narrador, uma bricolagem fotográfica que traça as associações subjetivas e os dilemas existenciais do personagem. Muito livremente inspirado no romance de Julio Cortázar “Um Certo Lucas”, Lucas reúne um retrato do protagonista por meio de relatos idiossincráticos e eventos díspares, alternando entre elementos da prosa e do verso para embaçar a distinção entre reflexões absurdas e revelações clarividentes.

11 de novembro, domingo, às 16:00
Performance Do Pó às Cinzas (From Candy to Dust), na Biblioteca da Fundação Iberê Camargo.

17 de novembro, sábado
– 14:00: Abertura de Fontenay-aux-Roses, no Átrio da Fundação Iberê Camargo

A instalação Fontenay-aux-Roses (2010) é composta por projeções de slides com imagens de Paris em preto e branco, acompanhadas por uma narrativa sincronizada. De certa forma, a obra de Pablo Pijnapple é um remake fotográfico de Vertigo de Hitchcock (1959), que, embora ambientado na Califórnia, também foi uma adaptação de um romance de detetives franceses. O carrossel do projetor de slides representa o uso da espiral por Hitchcock como padrão visual para representar tanto a falácia da visão quanto a aparente repetição de tempo na história do filme.

– 18:30: Performance A Zona (The Zone). Local de partida: Átrio da Fundação Iberê Camargo

Nesta performance, os visitantes serão guiados por múltiplos espaços esquecidos do edifício e arredores da Fundação: servindo como condutor do público, um performer narrará um seleção de sonhos pessoais de Pablo Pijnapple, reunidos e anotados ao longo de anos. A caminhada apresenta-se como uma cartografia do subconsciente, o espaço mental onde o tempo não tem relógio, despertando a sensação irreal para o visitante de ser um sonho, mesclando sua consciência com o devaneio.

Dia 18 de novembro, domingo, às 18:30
Performance A Zona (The Zone). Local de partida: Átrio da Fundação Iberê Camargo

Dia 24 de novembro, sábado, às 18:30
Performance A Zona (The Zone). Local de partida: Átrio da Fundação Iberê Camargo

Dia 25 de novembro, domingo, às 18:30
Performance A Zona (The Zone). Local de partida: Átrio da Fundação Iberê Camargo

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Programação Paralela no espaço Bronze (Duque de Caxias, 444)

14 de novembro, quarta-feira, às 19:30
2008 Foi Um Ano Ruim — Performance, 30 min, 2017

No formato de uma projeção de slides analógicos de meio-formato, acompanhadas por um comentário narrativo pelo artista, a ação é inspirada pelas novelas 1933 Was A Bad Year por John Fante e — principalmente —pela (autobiográfica) Satori in Paris por Jack Kerouac. Nesta, publicada alguns anos antes do autor norte-americano morrer de cirrose, Kerouac reconta uma viagem à França que fizera então recentemente, à procura de sua ascendência francesa. Entretanto, irritado com os parisienses hostis, termina por anteceder sua partida, após beber litros de cerveja e conhaque durante três dias, desistindo de seu objetivo ou pretexto inicial.