Um dos mais antigos meios de arte e comunicação, a gravura ganha hoje um renovado vigor, em seu tradicional formato e como grafismo expandido. Propostas que antes pareciam caber apenas em outros meios encontram agora acolhida na gravura, que de figurativa passou a abstrata e agora é, mesmo, abertamente conceitual. A própria superfície plana do papel deixou de ser seu recurso privilegiado.

Nesse cenário, uma aposta rara e oportuna vem sendo mantida pelo Programa Artista Convidado do Ateliê de Gravura em Metal de Iberê Camargo que, desde 1999, convida artistas de diferentes procedências e linguagens a vir a Porto Alegre experimentar seus caminhos num meio que nem sempre lhes é habitual. O potencial de renovação da gravura, com essa prática, é largo. E o de revisitação do próprio trabalho e das próprias opções, por parte do artista, não menor.

Esta exposição apresenta obras feitas ao longo do Programa, assinadas por artistas de destaque do país e do exterior. O conjunto permite ao observador, além do puro prazer da contemplação, aquilo que a arte, com mais propriedade, sempre sugere: fazer perguntas. Perguntas sobre a natureza do meio, do modo como se relaciona o artista com sua matéria, do gesto que leva à obra, do compromisso sugerido a quem a vê “do lado de fora” mas em trânsito para seu “lado de dentro”.

A mostra orienta-se sobre dois eixos, o de uma arte em negro e o de uma gravura que sai em busca da cor. Permitindo ao visitante um contato o mais próximo possível com a obra, aqui exibida sem as proteções habituais que a cercam nas situações de visitação “de massa”, esta exposição procura ser fiel, como possível, à tendência de Iberê de “não emitir conceitos, não propor definições”. Ver a gravura como um modo de pensar e sugerir uma dança livre a seu redor parece a resposta adequada à idéia do Programa.

Teixeira Coelho

Imagem: Vista parcial da exposição “Dentro do traço, mesmo”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 11 de setembro a 29 de novembro de 2009. Foto © Mathias Cramer