O alfabeto enfurecido: León Ferrari e Mira Schendel

Curadoria

Luiz Pérez-Oramas

09.abr

11.jul.10

León Ferrari e Mira Schendel estão entre os mais destacados artistas latino-americanos do século vinte. Ativos nas décadas de 60, 70 e 80 nos países vizinhos Argentina e Brasil, trabalharam independentemente um do outro sem estarem atados a movimentos artísticos organizados, produzindo obras que dão destaque à linguagem tanto visual quanto tematicamente.

Ferrari nasceu na Argentina em 1920. Dedicou-se a uma ampla gama de formatos e meios de expressão, desde escultura, pintura, desenho e assemblage até lme, colagem, mail art, poesia e som. Enquanto viveu por período temporário na Itália na década de 50, criou esculturas em cerâmica com estilo vinculado à abstração europeia da época. Ao voltar à Argentina, produziu esculturas de os metálicos e hastes antes de dar início a uma série de obras em papel, chegando a desenvolver uma prática na qual formas orgânicas e gestuais aparecem como abstrações e explorações dos códigos da escrita, produzindo nalmente pinturas, esculturas e instalações. Profundamente preocupado com o papel ético do artista, Ferrari mais tarde agregou seus interesses formais de vanguarda a uma arte mais agressiva ligada a política. Ferrari vive em Buenos Aires e continua ativo no âmbito artístico contemporâneo de seu país.

Nascida em Zurique em 1919, Schendel mudou-se com a família para a Itália ainda criança. Em 1936 matriculou-se na Università Cattolica em Milão para estudar Filolosofia, mas três anos depois, ameaçada pela perseguição anti-semita, exilou-se. No final da Segunda Guerra Mundial, deixou a Europa e mudou-se para o Brasil, onde começou a criar arte, desenvolvendo inicialmente obras em cerâmica e depois pinturas. A partir da década de 60, produziu um corpo de obras em papel que envolviam técnicas inventadas pela artista e que manifestam seu interesse no gesto escrito e na busca pela transparência dentro dos materiais. Nos últimos anos dessa década criou trabalhos tridimensionais usando papel Japonês além de outras obras complexas nas quais se destacam acumulações de signos e textos prensados entre folhas transparentes de acrílico. Schendel continuou exibindo até a sua morte, em 1988, uma sensibilidade aguda em relação à ética da criação de arte, concebendo-a como a expressão mais radical da condição humana.

Schendel e Ferrari surgiram numa época caracterizada pelo uso de modelos linguísticos para interpretar o mundo. Diferentemente do que os artistas conceituais praticavam na América do Norte e na Europa, Ferrari e Schendel usam a linguagem não apenas como veículo para expressar conceitos ou ideias nas obras de arte, mas como um meio material e físico, para moldar e criar formas. O alfabeto enfurecido: León Ferrari e Mira Schendel é a primeira exposição de vulto de sua obra nos Estados Unidos.

Luiz Pérez-Oramas

 

Imagem: Vista parcial da exposição “O alfabeto enfurecido: León Ferrari e Mira Schendel”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 09 de abril a 11 de julho de 2010. Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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