Waltercio Caldas: o ar mais próximo e outras matérias
Curadoria
Gabriel Pérez-Barreiro e Ursula Davila-Villa
01.set
18.nov.12
Esta exposição, abrangendo mais de quatro décadas de trabalho, é uma oportunidade única de se apreciar a obra de um dos artistas contemporâneos mais importantes do Brasil. Na nossa era pós-moderna, quando nos tornamos, cada vez mais, acostumados a processar imagens muito rapidamente e a arte contemporânea adota o literal, ou discursivo, sobre o visual como o campo de batalha das ideias, a desconfiança em relação à visualidade chega a patamares insustentáveis. As obras de Waltercio Caldas constroem uma estratégia para criar um espaço onde um determinado tipo de experiência pode ocorrer, uma forma de resistência à lógica cultural dominante. O exercício do seu trabalho, em última análise, tem a ver com um questionamento agudo e preciso entre visualidade e significado: a maneira que nossos olhos se conectam com nossa mente.
Em nosso ambiente arrebatado, a obra de Waltercio tenta criar um lugar onde o tempo seja desacelerado o suficiente para permitir a dúvida, o estranhamento, o questionamento e, por fim, um novo significado.
Uma de suas expressões favoritas é a de que não cria objetos, mas espaços entre eles; o que é verdade não somente em termos de uma descrição formal dos trabalhos (há, de fato, muito espaço “vazio”), mas, mais importante, por ser um indicador de o conteúdo e o significado serem gerados pelo trabalho ou pelo observador e também pela interação entre eles no espaço. O conteúdo invisível é o que se “sente” em uma exposição de Waltercio Caldas; uma sensação que é, ao mesmo tempo, corpórea, etérea e intelectual, e na qual a interação entre elas conspira para criar algo difícil de imaginar em qualquer outra forma de arte ou experiência.
É nesse aspecto que o artista é muito diferente do minimalismo, na sua rejeição da factualidade do espaço. A questão se resume a isso: o espaço vazio é nada ou é alguma coisa? E se é alguma coisa, que tipo de alguma coisa ele é? Olhar através das muitas décadas da produção de Waltercio provoca um grande paradoxo. Por um lado, o trabalho é imediatamente reconhecível como sendo seu, mas por outro, ele resiste a uma categorização na linguagem da história da arte. Nem minimalista, tampouco conceitual, nem instalação, tampouco formalista, ele constrói o próprio espaço e os próprios termos de engajamento. Literário sem ser literal, musical sem usar música e intelectual sem ser discursivo, Waltercio Caldas é um mestre do espaço vazio como um ato de resistência, um lugar para se pensar, vivenciar e, mais importante talvez, para mudar nossa maneira de ver as coisas.
Gabriel Pérez-Barreiro e Ursula Davila-Villa
Imagem: Vista parcial da exposição “Waltercio Caldas: o ar mais próximo e outras matérias”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 01 de setembro a 18 de novembro de 2012. Foto © Fabio Del Re_VivaFoto