A linha incontornável – desenhos de Iberê Camargo
Curadoria
Eduardo Veras
30.abr
30.out.11
Iberê Camargo (1914-1994) é um pintor amplamente reconhecido e admirado. Sua obra pictórica constitui capítulo decisivo na história da arte moderna brasileira e em seus desdobramentos na contemporaneidade. Também sua gravura vem merecendo numerosos estudos e análises, incluindo sua completa catalogação. O Iberê desenhista, no entanto, permanece à sombra. Esta exposição ensaia uma aproximação com esse legado.
O recorte curatorial procura evidenciar que o desenho do artista, mesmo quando pautado pela rapidez ou pelo descompromisso, traz a marca que nos acostumamos a admirar na pintura e na gravura de Iberê: o domínio técnico e formal a serviço da busca apaixonada – insistente, convulsionada – pelo que seria a própria essência do humano. Tanto quanto os óleos plasmados em camadas e sobrecamadas de tinta, a linha se faz incontornável.
Quatro vetores foram definidos, a partir dos mais de 3.000 desenhos tombados no acervo da Fundação Iberê Camargo. O primeiro compreende os chamados desenhos de formação: aqueles que Iberê riscou quando jovem, em fase de aprendizado, mas também aqueles que, em diferentes momentos de seu percurso, pareciam atados a algum estudo mais sistemático.
O segundo vetor é o dos desenhos insistentes: as imagens que perseguiram o artista ao longo dos tempos, como a do ciclista que percorre um caminho entre a desilusão e o desamparo até abandonar a bicicleta.
O terceiro vetor corresponde ao dos desenhos urgentes: projeções visuais e mentais que o autor precisava recolher o quanto antes para que elas não se perdessem.
Um quarto grupo é o dos desenhos domésticos, aqueles em que a atenção estava voltada para a vida cotidiana: a jovem esposa dormitando, a mãe enrolada em seu xale, o gato se espreguiçando.
Claro que não se trata de conjuntos excludentes. Um mesmo desenho pode, eventualmente, figurar em um ou noutro vetor. Com sorte, nas partes ou no todo, haverá aproximação – e encantamento – com o desenho de Iberê Camargo e com suas circunstâncias de invenção.
Eduardo Veras
Imagem: Vista parcial da exposição “A linha incontornável – desenhos de Iberê Camargo”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 30 de abril a 30 de outubro de 2011. Foto © Mathias Cramer