Elida Tessler: gramática intuitiva

Curadoria

Glória Ferreira

07.jun

18.ago.13

Ao criar diferentes imagens que dão suporte a seu jogo com a linguagem, Elida Tessler dialoga com a longa tradição da relação entre o visível e o dizível, entre a linguagem e a imagem. Nomes próprios, verbos, advérbios, substantivos comuns, adjetivos, pinçados a cada vez que aparecem em diferentes livros, e impressos em objetos banais do cotidiano, tramam sutis relações entre o universo das artes visuais e o da literatura, carregando em si duração e memória. A gramática, com sua longa história, com suas regras de regulação, é como que desfeita, tornando-se intuitiva, embora a partir de regras traçadas a priori pela artista na construção das obras. Nos trabalhos realizados a partir dos livros de Robert Musil, George Perec, Orhan Pamuk, Donaldo Schüler e outros, as palavras incorporadas em objetos chamam atenção para si mesmas, como puros significantes, obstruindo qualquer possibilidade de sintaxe passível de transmitir um significado completo e compreensível da mensagem verbal.

Com trânsito em várias áreas, como artista, professora do Instituto de Arte, da UFRGS e curadora, manteve, com Jailton Moreira, ao longo de 16 anos, o saudoso Torreão como espaço de trabalho, de formação e de intervenções de muitos artistas, nacionais e internacionais.

Elida Tessler: gramática intuitiva traz um conjunto significativo, embora não exaustivo, apresentando seu trabalho de mais de vinte anos de carreira. Tal poemas visuais, seus trabalhos abordam tempo e memória, linguagem e imagem, o espaço dos afetos, tecido na relação entre as palavras e as coisas. Objetos do cotidiano, como prendedores de roupa, pratos, potes de mantimento, meias de náilon, coadores de café, fios de ferro, de cobre ou de latão, pregos, palha de ferro e muitos outros, são depositários de palavras ou se constituem como obras. Palavra e objeto cruzam-se em sentidos diversos como um modo de relação entre arte vida, trama indissociável, impregnados de variadas temporalidades, em que a memória é um fio sempre presente.

Glória Ferreira

 

Imagem: Vista parcial da exposição “Elida Tessler: gramática intuitiva”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 07 de junho a 18 de agosto de 2013. Foto © Guilherme Dias

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