Iberê Camargo: visões da Redenção
Curadoria
Eduardo Haesbaert e Gustavo Possamai
16.mar
30.jun.19
“Há gente caminhando dentro de mim…”, escreveu Iberê. Pessoas em movimento, na cena da vida – na obra do artista.
No início da década de 1980, após 40 anos vivendo no Rio de Janeiro, Iberê Camargo retornou a Porto Alegre e passou a frequentar o Parque Farroupilha – mais conhecido como Parque da Redenção. Nas caminhadas ao lado de sua esposa Maria Coussirat Camargo, observava a paisagem e o ir e vir de frequentadores como transeuntes, artistas, ciclistas e pessoas em situação de vulnerabilidade. Esses anônimos, transpostos com potência expressiva para seus desenhos, pinturas e gravuras, logo se transformaram em arquétipos de um pintor que enfrentava a dor e a realidade do mundo.
Iberê expressava as formas da natureza e da condição humana, “atingidas pela vida”, por meio de árvores fantasmagóricas e de personagens que habitavam a cena, sem rumo. Suas anotações que, à primeira vista, aparentavam ser simples registros da vida cotidiana, ganharam um significado maior, transformando-se em matéria-prima para algumas das obras mais famosas do artista, como a série Ciclistas.
O parque mais tradicional da cidade – e palco das mais diversas manifestações sociais, culturais e políticas – revelou-se, então, como um portal, um deslocamento da realidade para outra ordem no tempo. Delírio e devaneio – um novo estar no mundo.
Assim era Iberê Camargo e seu duplo – o ciclista –, que caminha dentro dele assim como a outra gente do Parque da Redenção.
Eduardo Haesbaert e Gustavo Possamai
Imagem: Iberê Camargo. sem título, c. 1987. Foto © Fabio Del Re_VivaFoto