Leonilson: sob o peso dos meus amores
Curadoria
Bitu Cassundé e Ricardo Resende
16.mar
03.jun.12
A exposição Sob o peso dos meus amores, organizada pela Fundação Iberê Camargo, reúne mais de 300 trabalhos de autoria do artista José Leonilson, datados do final da década de 1970 até os mais recentes, de 1993, ano de sua morte.
A mostra lança um olhar panorâmico sobre a produção de um dos artistas expoentes da década de 1980, em uma visão ampla de sua obra com a abertura para o público de parte de suas agendas e cadernos de artista que revelam outras particularidades de sua produção artística. Fazem parte os desenhos realizados por Leonilson para ilustrar uma coluna no jornal Folha de S. Paulo, de 1991 a 1993.
Como complemento, reunimos trabalhos dos artistas amigos Leda Catunda, Sérgio Romagnolo, Daniel Senise, Luiz Zerbini e Albert Hien. Com este último, artista alemão que Leonilson conheceu na Bienal de São Paulo de 1985, criou a instalação How to rebuild at least one eighth part of the world (Como reconstruir ao menos uma oitava parte do mundo), de 1986, que abre a exposição.
Os trabalhos desses artistas contextualizam a obra no período em que a geração surgida nos anos 80 ganha grande destaque depois da histórica exposição “Como vai você, Geração 80?”, realizada em julho de 1984.
O tema amizade, recorrente em sua obra, estará presente nos trabalhos que se relacionam aos amigos. Trabalhos que estão relacionadas à ideia de coleção, de repetição, de classificação e de numeração, indicando um caráter taxonômico em sua obra, como também o repertório de signos que percorrem sua produção como o vulcão, o avião, a ampulheta, a cadeira e o globo, que, juntos, representam a ansiedade de viver do artista.
É muito presente na arte contemporânea a ideia de autoetnografia. Leonilson observa o mundo a partir de dentro de si e em relação ao outro como se investigasse a própria prática artística através de experiências vividas e de sua coleta de dados que se materializa em uma obra artística. Uma obra que parte do “eu” para a compreensão maior de mundo. Uma obra que se materializa como um grande “catálogo” composto pela memória das amizades, das emoções e das palavras que evidenciam o caráter relacional da imagem construindo paisagens exteriores e interiores.
As agendas e cadernos do artista, trazidos para a exposição, são suportes utilizados como espaços de experimentação e reflexão complementares em sua obra. Além de servir como diários e instrumento de catalogação do cotidiano – Leonilson tinha verdadeira fixação em deixar marcas e registros como prática artística –, as páginas foram usadas como importantes exercícios de reflexão de onde vieram muitos de seus trabalhos. Nelas pode-se, em determinados casos, observar o processo estrutural da obra desde sua concepção com uma elaboração preciosa de elementos visuais até a escrita poética que a contorna.
Leonilson fez de sua obra seu diário íntimo, deixava transparecer nas suas “páginas” certa melancolia ciclotímica.
É autobiográfica e contundente para se pensar a arte no fim do século XX e começo do XXI. Tem como tema central as preocupações e os desejos do artista que representam os dilemas do homem contemporâneo.
Bitu Cassundé e Ricardo Resende
Imagem: Vista parcial da exposição “Leonilson: sob o peso dos meus amores”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 16 de março a 03 de junho de 2012. Foto © Fabio Del Re_VivaFoto