Limites sem limites: desenhos e traços da Arte Povera

Curadoria

Gianfranco Maraniello

22.ago

02.nov.14

A arte povera nasce na Itália na segunda metade da década de 1960, teorizada pelo crítico Germano Celant a partir da observação de um “rasgo linguístico” operado por alguns artistas para alterar o foco das formas para os processos, do espaço confinado de uma obra para o potencial infinito de uma experiência. A denominação é emprestada do teatro “pobre” formulado por Grotowski e alude à estratégia da redução (empobrecimento) de signos direcionada à busca do primário e do elementar, movendo-se em direção a um retorno da centralidade do ser humano e contestando a organização cada vez mais sistemática e tecnológica de seus produtos.

A mostra na Fundação Iberê Camargo é o primeiro grande exame do modo como os protagonistas do movimento interpretaram a prática do desenho. Tal técnica é empregada como um traçar, um delinear de signos que identificam e em conjunto superam as margens das obras, desconstruindo, portanto, a sua execução, não somente para observação, mas incitando os espectadores a questionar a sua posição, a investigar a superfície do mundo como uma pele ou um limiar, e a considerar a proximidade de suas vidas com os processos naturais e a inesgotável energia da imaginação.

A obra de arte aparece e, ao mesmo tempo, fica sempre além de si mesma, está presente e se refere a outra coisa, como um testamento da aderência da existência como um processo dinâmico não para representar, mas para se destacar contra a cristalização da história.

A exposição Limites sem limites, portanto, não é um exame historiográfico, não propõe uma retrospectiva dos eventos da arte povera colocando-os em ordem cronológica, mas se baseia nas práticas expressadas pelos protagonistas de uma das mais radicais tendências da arte contemporânea ao observar trabalhos e gestos exemplares, capazes de continuar estimulando a maravilha de estar no mundo e nosso desejo de dar forma ao infinito do espaço e do tempo.

Gianfranco Maraniello

 

Imagem: Vista parcial da exposição “Limites sem limites: desenhos e traços da Arte Povera”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 22 de agosto a 02 de novembro de 2014. Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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