A instalação Ensaio sobre a dádiva foi pensada por Nuno Ramos especialmente para os espaços da Fundação Iberê Camargo, projetados por Álvaro Siza. Nas salas laterais do último piso, Nuno Ramos posicionou duas esculturas. Em uma delas, é simbolizada a troca, ou dádiva, como diz o título da instalação, de um violoncelo por um copo d’água, através de um segmento de barco que os une. Na outra sala, é um trilho de montanha russa que simboliza e estrutura a troca de um Pierrô por um cavalo. Essas operações seguem o simbolismo da dádiva, na qual coisas são trocadas não por valores monetários, mas por um simbolismo complexo. A disposição dos elementos que ficam no vazio contra a parede vertical e arredonda de Álvaro Siza foi o ponto de partida para a realização da instalação. Nuno Ramos preferiu usar a horizontalidade do vazio no lugar de empregar seu aspecto vertical. Um violoncelo e um cavalo de pau no vazio são os aspectos mais salientes da instalação. Nas duas salas laterais, há também dois vídeos que narram a troca do Pierrô por um cavalo e do violoncelo por um copo. Duas linguagens, assim, são postas em relação de reciprocidade, um tanto como numa dádiva. Na sala do meio, Nuno Ramos dispôs uma réplica das esculturas em matérias de fundição como latão e alumínio. Ligadas uma à outra, são o lado mais sombrio da instalação, contraposto à alegria dos elementos que se lançam no espaço vazio, como se a sala do meio fosse um amuleto que protegesse o restante. Plena de simbolismos e referências internas que circulam entre as obras, Nuno Ramos montou circularidades semelhantes às das cerimônias em que as dádivas ocorrem em sociedades de povos onde a troca não é monetária, mas simbólica em aspectos múltiplos. Andar pelas salas é reproduzir um pouco essa circularidade entremeada de símbolos.

Alberto Tassinari

Imagem: Vista parcial da exposição “Nuno Ramos: ensaio sobre a dádiva”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 30 de abril a 10 de agosto de 2014. Foto © Fabio Del Re_VivaFoto