Há uma história da tapeçaria e arte têxtil que não está nos livros da “grande” História da Arte. É um passado que está na memória das pessoas, nos arquivos, nos documentos e nas obras, que não é de todo organizado, sendo esta mostra um esforço de contribuição para a sistematização e o reconhecimento da produção de diversos artistas que atuaram no Rio Grande do Sul, contribuindo para a consolidação da arte têxtil brasileira, tendo grande destaque na década de 1970.  

No Rio Grande do Sul, os responsáveis pelo início dessa trama são Zoravia Bettiol e Yeddo Titze, pois ambos, em 1968, viajaram para a Europa para aprofundar seus conhecimentos sobre o têxtil, mas buscaram cidades diferentes para fazê-lo. Yeddo Titze foi a Aubusson, um dos centros de tapeçaria mais reconhecidos na França, sendo uma das cidades em que Jean Lurçat trabalhou intensamente com diversos ateliês, trazendo artistas modernos, como Alexander Calder, Pablo Picasso e outros, para realizarem cartões a fim de serem tecidos, ajudando na modernização da técnica têxtil.   

Zoravia Bettiol foi à cidade de Varsóvia, na Polônia, onde havia uma geração de artistas que estavam se voltando ao tecer, sendo estudada como a pintura e a escultura. Assim, os artistas poloneses, que têm como uma das principais representantes Magdalena Abakanowicz, tinham a experimentação como chave na construção de suas obras, explorando diversos materiais, estruturas e formas em seus trabalhos. Com essas influências bem diferentes, Zoravia Bettiol e Yeddo Titze retornaram ao Brasil e deram aulas, ele na Universidade Federal de Santa Maria e ela em diversos espaços de Porto Alegre, criando-se, assim, uma geração de artistas ligados ao têxtil. 

Todos os artistas da mostra tiveram sua trajetória ligada ao Rio Grande do Sul e foram deveras importantes para a divulgação do têxtil em âmbito nacional, participando de diversas mostras no Brasil e no exterior. E, mesmo havendo esses dois mestres principais – Bettiol e Titze -, cada artista criou uma poética própria e assumiu a técnica e material que fosse mais adequado ao seu interesse. Na exposição Trama isso se torna bem perceptível, havendo tapeçarias construídas com técnicas mais tradicionais como também obras que misturam diversos materiais e exploram a tridimensionalidade. Mostrando essa versatilidade, é um desejo também que essa mostra atraia novos olhares para a produção têxtil, seja para um simples ponto, tapeçaria ou bordado, criados por um artista, seja no passado, seja no agora.  

Carolina Grippa
Curadora

Artistas:
Ana Norogrando
Arlinda Volpato
Berenice Gorini
Erica Turk
Fanny Meimes
Heloisa Crocco
Ivandira Dotto
Joana Azevedo de Moura
Jussara Cirne de Souza
Liciê Hunsche
Luiz Gonzaga
Nelson Ellwanger
Salomé Steinmetz
Sonia Moeller
Wilhelm Hovarth
Yeddo Titze
Zoravia Bettiol

A exposição Trama: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul  possui realização da Fundação Iberê  e Ministério da Cultura/Governo Federal, com patrocínio da Petrobras.

Minidocumentário sobre a exposição:

Conversa sobre a exposição, realizada no dia 03/12/2022:

Imagem: Jussara Cirne de Souza. Dinamismo, década de 1970. Acervo Banrisul. Foto © Fabio Del Re_VivaFoto.