William Kentridge: fortuna
Curadoria
Lilian Tone
08.mar
26.maio.13
Os filmes de animação baseados em desenhos a carvão que tornaram William Kentridge um dos nomes mais prestigiados da cena artística internacional, a partir do final dos anos 1980, já apontavam para um processo criativo de fluxo ininterrupto, cujo fio condutor são as ideias de transformação e movimento. Profundamente marcados pela paisagem e pela história de sua terra natal, a África do Sul, seus trabalhos vinculam política e poética, drama coletivo e individual, sem dispensar humor e ironia.
Graças à parceria entre o Instituto Moreira Salles, a Fundação Iberê Camargo e a Pinacoteca do Estado de São Paulo, foi possível realizar William Kentridge: fortuna, a primeira grande exposição monográfica sobre o artista na América do Sul, reunindo cerca de 200 trabalhos, produzidos entre 1989 e 2012. A exposição revela a complexidade de um método criativo essencialmente performático, que se desdobra em variados meios de expressão: desenho, filme, vídeo, escultura, objeto e gravura. Ao iluminar o processo de trabalho do artista, em vez de temas particulares, esse recorte faz de seu estúdio, em Johannesburgo, cenário e personagem de sua produção. Nesse espaço, William Kentridge busca formas para ideias fragmentadas e contraditórias, seguindo como princípio a noção de “fortuna”. Para ele, “fortuna” é uma espécie de acaso dirigido, descoberta ou sorte comum a toda busca incessante e apaixonada, algo distante do controle racional e da estatística fria.
Com distorções, anamorfoses, máquinas e métodos de aparência obsoleta, objetos e personagens de sua obra estão em constante movimento e redefinição. Kentridge pretende, sobretudo, provocar uma reflexão sobre o processo de ver, apontando para um mundo cujo sentido deve ser construído por cada um de nós pelo olhar.
Lilian Tone
Imagem: O artista William Kentridge na abertura da exposição “William Kentridge: fortuna”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 08 de março a 26 de maio de 2013. Foto © Acervo Documental da Fundação Iberê Camargo