Xico, Vasco e Iberê – O ponto de convergência

Curadoria

Agnaldo Farias

06.set

17.nov.13

Xico, Vasco e Iberê, dois escultores e um pintor, informalmente referidos no título desta exposição, sem o peso dos sobrenomes Stockinger, Prado e Camargo, que é como constam na história da nossa arte. A ideia que permeia essa exposição é enfatizar o coleguismo no áspero ofício artístico, tornado ainda mais árduo num país como o nosso, no geral indiferente às conquistas sociais mais elementares, o que dizer então daquilo que o destino impeliu esses homens a produzir, a arte, que é quase sempre posta de lado. Apesar das evidentes diferenças quanto às opções poéticas e ideológicas desses três, não só quanto ao suporte de suas expressões, mas às perguntas e às estratégias sobre o quê e como fazer, houve um momento em que convergiram, estabeleceram um ponto em comum: a condição humana ou, como escreveu Iberê Camargo em 1993: “minha fase atual […] reflete a eterna solidão do homem”.

É bem verdade que existe uma aproximação natural por parte de quem, como eles, coexistiu – da mesma geração –, passando os anos de formação ou parte deles, no mesmo lugar, no caso o Rio Grande do Sul. Não no caso de Xico Stockinger que, formado no Rio de Janeiro, fixou-se em Porto Alegre em idade adulta. Mas a espessura do cruzamento entre um mesmo tempo e espaço, o Brasil dos anos 1940 e 1950, deve-se em parte aos comentários, dúvidas, certezas e perplexidades, materializadas em suas obras como as deles.

Embora distintas, as trajetórias de Xico Stockinger (1919-2009), Vasco Prado (1914-1998) e Iberê Camargo (1914-1994), companheiros nas inquietudes, angústias e irritações, aproximaram-se nas décadas finais de suas vidas no modo como se interessaram, investigaram e construíram seus comentários sobre o homem, seja ele brasileiro e comum, como os ciclistas em passeios prosaicos pelo Parque da Redenção, em Porto Alegre, no caso de Iberê, miserável, como os “homens gabirus”, as comunidades espalhadas pelo país de gentes mal conformadas, corpos e mentes subnutridas, como nos apresenta Xico, ou universal e atemporal como as esculturas antropomórficas de Vasco, que atravessam o tempo soterradas até aflorar no presente, como ruína luminosa e mágica, despojo de alguma escavação arqueológica. Contudo, a sincronicidade com que trabalham não prescinde do exame, ainda que sumário, do passado de cada um, e também da análise sobre qual ângulo da linguagem eles interpretam o que observam. Afinal, qualquer abordagem sobre o que quer que seja, sobretudo a assim chamada “realidade”, é um trabalho sobre a linguagem.

Agnaldo Farias

 

Imagem: Vista parcial da exposição “Xico, Vasco e Iberê – O ponto de convergência”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 06 de setembro a 17 de novembro de 2013. Foto © Guilherme Dias

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