FestFoto completa 15 anos com exposição na Fundação Iberê

26.jul.22

Terrarium inaugura no dia 6 de agosto, ocupando os quatro andares do centro cultural

 

O Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre – FestFoto completa 15 anos em um momento inédito de incerteza. O confinamento disparou processos de conexão e desconexão nunca vistos. A experiência de viver em ambientes individualizados e a insegurança frente ao desconhecido reforçaram o desejo de controle – ainda que ilusório – sobre a manutenção da vida.

Em paralelo, o planeta nunca foi tão agredido por um comportamento humano de rara hostilidade. Nessa distopia, a imposição do isolamento forçou a invenção de novas formas de sentir e povoar as distâncias, criando um Terrarium de ligações possíveis, tema da 15ª edição do FestFoto, que inaugura no próximo dia 6 (sábado), na Fundação Iberê, e ocupará todos os andares da instituição até 21 de agosto.

A mostra foi dividida em três partes e, também, pretende um diálogo com elementos centrais da constituição do Brasil, por ocasião da passagem do bicentenário da Independência.

Mostra Fotograma Livre – Para incorporar a diversidade de olhares sobre a pandemia, o festival exibe as obras dos 20 finalistas do concurso internacional Fotograma Livre. Os artistas foram provocados a pensar sobre as estratégias contemporâneas capazes de viver e enfrentar os temas da atualidade. O que é possível cultivar nestes territórios e mundos individuais em que somos obrigados a permanecer durante confinamentos de distintas naturezas?

Desconforto emocional, abuso e violência contra a natureza (destaque para o tema dos incêndios no Centro-Oeste e para os crimes ambientais em Minas Gerais), o mundo dos adolescentes suburbanos, engraxates colombianos, corpos dissidentes e híbridos de tecnologia, estratégias do racismo familiar, as várias camadas de uma história nacional inscrita em azulejos e a potência da imagem como disparador de memória são alguns dos temas que poderão ser vistos nos trabalhos apresentados.

Fotograma Livre – artistas participantes
Luiza Kons: 
Em nome da Mãe e do Pai – Vencedora da categoria Portfólio
Mari Gemma De La Cruz: Céu de Urucum – Vencedora da categoria Multimídia
Ana Sabiá: O Gabinete de Curiosidades da Sra. M.N.
Bárbara Lissa e Maria Vaz: Quando o tempo dura uma tonelada
Bella Tozini: Órgãos Dissidentes
Christianne Bueno: Folie Circulaire Series
Federico Stoll: Heróis Brilhantes
Isabella Finholdt: SEDE
José Roberto Bassul: O sol só vem depois
Kitty Paranaguá: Danaturezadascoisas
Luciana Petrelli: Os sons da terra
Marcio Vasconcelos: Juradas de Morte
Marisi Bilini: A Montanha é de pedra. E você?
Mateus Morbeck: Realejo
Mateus Morbeck: Esquecemos de aprender
Mateus Sá: Latência
Patrícia Borges: Akhenaton e Terra sem nuvens e sem noites
Ricardo Ravanello: Distopias e utopias
Ulla von Czékus: White Balance
Valdir Machado Neto: Habitant

 Terrarium brasiliensis – Um grupo de estudos, conduzido pelos coordenadores do FestFoto, traz reflexões coletivas e horizontais e trabalha com as diversas relações que a fotografia estabelece na cena da arte contemporânea: a gênese da imagem, o fluxo criativo, os interesses de mercado e da museografia e o papel da arte na vida humana. Reunidas na mostra Terrarium brasiliensis, as imagens criadas no grupo constroem um mosaico de temas e propõe considerações sobre marcos temporais.

Terrarium brasiliensis – artistas participantes
Renata Saad:
 DESconsTROI
Sonia Loren: Submersa – o corpo como anima
Allan Silva: Série Odisséia 2021
André Bracher: Série Querida Erna
Clayton Ferreira: Série Terraium
Claudia Brandão: IN(TER)VENÇÕES
Fernando Maia: Treinado para esquecer
Flavia Sampaio: Série Tempo Esculpido
Juliana Sícoli: 120 volts
Madame Pagu: Pele Mansa
Rose Aguiar: Série Fragmentos
Sabrina Lisaukas: Fuidez
Sandra Gonçalves: Série Caos
Tiago Meireles: Série Trezentos e setenta e cinco mil e trezentos passos e a Série Por que está lá

Brutalismo
A mostra apresenta seis obras que discutem o resultado da relação abusiva com o ambiente natural no Brasil. No momento do bicentenário da Independência, o FestFoto convida a pensar sobre a lógica brutal de domesticação da paisagem e de extração dos recursos minerais e ambientais que caracterizam os 500 anos de inserção do país na economia mundial.

Solidão, de José Diniz
Vencedora do Fotograma Livre 2020
Série de fotografias digitais, realizadas no Pará e sobrepostas a imagens de satélite. A obra localiza as árvores de castanheiras – poupadas do abate por uma lei federal que proíbe a derrubada de algumas espécies – no mapa do desmatamento. Mesmo sobreviventes, elas sofrem com a destruição do ambiente e entram em processo de sofrimento, evidenciado pelas fotografias.

Tempo dos Tupinambá, de Zeca Linhares
A obra é uma busca por paisagens originais anteriores à fundação da cidade do Rio de Janeiro e de seu entorno.  Um mergulho na fauna e na botânica originais do Brasil e o impacto das espécies introduzidas pelos portugueses. Também é um estudo sobre as cores que foram sumindo de nossas paisagens originais.

O recado da montanha
Mostra com curadoria do fotógrafo Rodrigo Zeferino, reúne quatro aristas mineiros para mostrar a realidade da exploração de minério de ferro em Minas Gerais.

Mar de Morro, de Pedro David
Na série Mar de Morro, o autor registra as marcas de areia e terra acumuladas nas calçadas de sua vizinhança e as associa aos morros de Minas Gerais. A partir desses rastros indiciais fantasmagóricos, David nos faz lembrar da sina do hemisfério sul de servir como fonte de recursos primários. Ao mesmo tempo, chama atenção para a topografia mineira que, dia após dia, é “britada em milhões de lascas”, nas palavras de Drummond.

Veias Minerais, de Julia Pontés
Júlia Pontés olha bem para o que restou das montanhas, muitas delas vertidas em vórtices que assumem a forma de pico negativado. Sempre do alto, ela cria imagens de alta densidade pictórica observando os rastros deixados na terra pela atividade extrativista. Justo ela, que padece de uma doença genética que impede seu organismo de processar e eliminar excessos de ferro. Em Veias Minerais, a autora sobrevoa e registra meticulosamente todas as áreas e compõe um mapa da exploração mineral no estado dando nome e cor ao resultado da retirada de ferro, ouro, nióbio, alumínio e ardósia.

Máquina-Terra, de Rodrigo Zeferino
A série Máquina-Terra, de Rodrigo Zeferino, tem como protagonista a usina que ocupa o centro geográfico de Ipatinga, sua cidade natal. Derivadas do projeto O Grande Vizinho, um olhar sobre a absurda proximidade entre as paisagens urbana e industrial da cidade, estas imagens surgem a partir da imersão do artista nas entranhas do gigante metálico, percorrendo o mesmo trajeto do minério que, lá dentro, assume a forma de chapas brilhantes.

Partículas Metálicas, de João Castilho
A série Partículas Metálicas integra uma sequência de obras em que João Castilho se apropria de signos relativos aos efeitos da mineração e os contrapõe à fortuna mineira representada pelo barroco, pela arte contemporânea e pelas belas paisagens naturais. Além das antigas cidades que coexistem com uma mineração voraz em seus arredores, a região abriga um dos mais importantes acervos de arte do mundo, o Museu Inhotim. Localizado em Brumadinho, a segunda cidade a sofrer com uma catástrofe causada por mineradoras em um período de quatro anos, o museu e todos que por ali residem estão sob algum nível de risco.