Fundação Iberê abre neste sábado a exposição Fotograma Livre no FestFoto 2024: um diálogo sobre a crise climática

12.ago.24

Documentando a devastadora tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul em maio de 2014, a fotógrafa Mirian Fichtner (RS) é a vencedora do concurso internacional Fotograma Livre. Outro destaque é a obra de Jenner Neves (RJ) realizada a partir de Inteligência Artificial. Os trabalhos de dez finalistas do FestFoto 2024 pode ser visitado de  17 de agosto a 1º de setembro, no Átrio da Fundação Iberê. Entrada gratuita

 

Enfoque na Crise Climática
Com as enchentes devastadoras que atingiram o Rio Grande do Sul em maio, este ano, o FestFoto reforça sua presença no debate global sobre a crise climática. A Convocatória do FestFoto 2024 Fotograma Livre foi ampliada para contar com trabalhos que abordassem as causas, consequências e soluções para a crise climática. O objetivo é contribuir na discussão sobre um novo equilíbrio da nossa presença no ecossistema local e mundial.

Um júri internacional formado exclusivamente por mulheres curadoras selecionou dez finalistas a partir de duas categorias: Multimídia (apresentações em vídeo-exposição com até 3 minutos de duração) e Portfólio (coletâneas com até 15 imagens).

Categoria Portfólio: Tragédia Anunciada, de Mirian Fichtner (RS)
A série fotográfica Tragédia Anunciada documenta a devastadora tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul em maio de 2014, nascida da indignação da artista frente à inação dos gestores e políticos que ignoraram a crise climática. Mirian escolheu retratar a intimidade da catástrofe, capturando a dor e a resiliência dos moradores ao voltarem para suas casas destruídas. Suas imagens, tragicamente belas, transcendem o registro histórico, evocando profunda emoção e servindo como um poderoso lembrete da urgência de ações climáticas.

Categoria Multimídia: Lampejos, de Delfina Rocha (CE)
Lampejos mergulha na recente descoberta da ancestralidade judaica sefardita da artista. A obra explora temas de tempo, espaço, pertencimento e memória, compondo um mosaico de imagens atemporais ligadas aos antepassados marranos de Delfina, que se refugiaram no sertão nordestino durante a Inquisição. Usando uma máquina de engrenagens rudimentares, que permite ao espectador criar combinações de imagens sobrepostas, o vídeo evoca lampejos de memórias ancestrais. Lampejos celebra as histórias de mulheres que vieram antes de Delfina Rocha, refletindo a continuidade de sua herança e a perpetuação de memórias e identidades.

Selecionados
Passado Presente
, de Jenner Neves (RJ)
Passado Presente é um ensaio fotográfico que transcende o tempo ao conectar passado e presente, utilizando inteligência artificial para criar imagens que evocam memórias de 1941. Encontradas em 2024 após uma enchente no RS, as fotografias e uma carta comovente revelam a beleza e a devastação da natureza, fazendo um apelo à consciência ambiental. As imagens capturam a nostalgia e a resiliência humanas, convidando o espectador a refletir sobre a necessidade de proteger o meio ambiente para um futuro mais esperançoso.

A memória gosta de dançar entre as palavras não ditas e as imagens a serem contadas, de Fernando Maia (CE)
Em sua série de imagens A Memória Gosta de Dançar entre as palavras não ditas e as imagens a serem contadas, Fernando Maia utiliza fotografias de álbuns familiares do período de exílio na Albânia para criar uma narrativa ficcional de vida em Paris e Roma. O projeto explora a relação entre memória, esquecimento e censura, transformando o silêncio imposto pelo regime militar brasileiro em poesia visual. Através de imagens que oscilam entre o nítido e o borrado, Fernando nos convida a refletir sobre a complexidade das narrativas pessoais, convertendo trauma e silêncio em uma potente expressão artística e esperança de reconciliação com o passado.

AS duas sabiás, de Ana Sabiá (SC)
A série fotográfica homenageia a pintura “As duas Fridas”, de Frida Kahlo, explorando a complexidade do autorretrato e a construção identitária. Ana Sabiá utiliza sua experiência de maternidade e o amadurecimento pessoal para abordar a fragilidade dos corpos e a invisibilidade do trabalho de cuidado. A série ganha profundidade ao envolver seu filho adolescente, simbolizando apoio e transformação contínua. A artista se posiciona como eu-filha e eu-mãe, criando uma narrativa visual que conforta e confronta, desafiando-nos a refletir sobre nossas próprias identidades e o papel do cuidado na vida.

Nada será como antes, de Daniel Marenco (RS)
Nada será como antes é uma obra poderosa que retrata a devastadora experiência de perda e a luta incessante pela reconstrução após uma tragédia. A narrativa imersiva capta a sensação de vazio e desolação que assola aqueles que veem suas conquistas e memórias transformadas em nada, evidenciando a fragilidade da vida diante das forças incontroláveis da natureza. Daniel descreve com precisão o sofrimento silencioso e os traumas profundos que persistem mesmo diante da solidariedade, explorando a complexidade emocional e os desafios psicológicos enfrentados pelas vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul. A angústia palpável se mistura com a resiliência humana, enquanto os personagens tentam, muitas vezes em vão, restaurar uma normalidade que parece perdida para sempre.

RIO/MINE, de Jeniffer Cabral (Estados Unidos)
Jennifer Cabral explora a transformação simbólica dos recursos naturais em commodities de mercado. Recriando fitas de telégrafo usadas no mercado de ações, a artista mostra como um rio se reduz a uma sigla na bolsa de valores, destacando o conflito de interesses entre Brasil e Estados Unidos na mineração. Utilizando mapas históricos da Biblioteca do Congresso dos EUA, ela evidencia a apropriação dos patrimônios naturais brasileiros, desde a exploração do ouro até o minério de ferro. As tiras de papel espalhadas simbolizam as necessidades econômicas conflitantes e os ganhos especulativos internacionais, representando o impacto da globalização e da exploração econômica sobre o Brasil.

Carmela, de Fede Ruiz Santesteban (Uruguai)
Carmela narra a história de uma camponesa italiana que, em 1926, fugiu da fome e do fascismo, encontrando um novo lar no Uruguai, onde cultivou a terra e deixou um legado para seus descendentes. Noventa anos depois, a mãe do autor retorna à cidade natal da avó, descobrindo que as mesmas plantas brotam em ambos os lugares, simbolizando a conexão das raízes familiares. Os descendentes continuam a migrar com sementes e mudas, mantendo viva a memória e o legado através do cultivo. A obra utiliza o arquivo familiar e o poder fotossensível das plantas para conectar territórios na Europa e América.

Onde estão as boias, de Angela Plass (RS)
Angela Plass apresenta imagens aéreas das lavouras e campos alagados durante a enchente de setembro de 2023, em Porto Alegre. As águas, que ultrapassaram os limites do rio e submergiram as boias sinalizadoras, são retratadas com cores inusitadas, destacando o contraste entre o cenário de destruição e a força silenciosa das ações solidárias e da resiliência das comunidades afetadas. A fotógrafa utiliza intervenções cromáticas e boias sobre as formas geométricas do terreno para simbolizar a reconstrução e a esperança. A obra questiona a presença de boias—metáforas de apoio e inspiração — em momentos de adversidade, oferecendo uma reflexão sobre sobrevivência e recomeço.

Jornada del Muerto, de Márcia Charnizon (BH)
Jornada del Muerto reflete sobre a necessidade de mudanças subjetivas diante das urgências do mundo, ao adotar a perspectiva das plantas. Em novembro de 2023, 78 anos após a primeira explosão atômica, Márcia explora o White Sands Park, Novo México, próximo à explosão de 1945 e à região histórica chamada Jornada del Muerto. Este local, conhecido por sua complexidade e desafios históricos, serve como pano de fundo para retratos de plantas nativas. A obra investiga como a resiliência não se baseia em ignorar as adversidades, mas em encontrar leveza mesmo nos ambientes mais inóspitos. Através das plantas, Márcia transforma adversidades em uma reflexão crítica sobre renovação e metamorfose, propondo um engajamento profundo com a realidade.

Homenagem aos fotógrafos gaúchos
A coordenação do FestFoto 2024 decidiu homenagear todos os(as) fotógrafos(as) gaúchos(as) que se inscreveram na Convocatória e enfrentaram a tragédia climática no RS. Suas imagens contribuíram significativamente para que o Brasil e o mundo pudessem compreender a dimensão da catástrofe e serão exibidas na projeção coletiva A enchente. São eles:

Ana Godoy
André Hilgert
Andre Avila
Alass Derivas
Anselmo Cunha
Camila Hermes
Carlos Macedo
Carolina Silveira
Claudio Zagonel Neto
Cristiano Kunz
Eduardo Aigner
Fernanda Chemale
Isabelle Rieger
Karina Koch
Leandro Selister
Marina Chiapinotto
Maria Eduarda Fortes
Mateus Bruxel
Renan Mattos