Marepe – Um fio que ligue os mundos

Curadoria

Ricardo Sardenberg

23.ago

15.mar.26

Marepe (Marcos Reis Peixoto, Santo Antônio de Jesus, BA, 1970) vive e trabalha na cidade onde nasceu, no Recôncavo Baiano. Sua permanência no lugar de origem não é circunstancial, mas uma escolha estética e política. Em um tempo em que o nomadismo se tornou quase um requisito da arte contemporânea, Marepe propõe um gesto inverso: o sedentarismo como forma de resistência e criação. Sua obra nasce de uma escuta atenta ao cotidiano, ao entorno imediato, às formas de vida que persistem nos interstícios da modernização.

Filho de uma professora de artes e de um comerciante da construção civil, Marepe cresceu cercado por objetos, feiras livres e festas populares. Esses elementos retornam em sua produção não como simples referências autobiográficas, mas como operadores simbólicos: fragmentos de uma memória agnóstica que se transforma em linguagem. A feira de Santo Antônio de Jesus, marcada pela mistura de saberes locais e mercadorias globais – sobretudo após os anos 1990 – é um dos eixos centrais de sua poética.

Em sua prática, objetos banais – cadeiras, escadas, carrinhos, bacias – são ressignificados, não como ready-mades duchampianos, mas como “necessáires”: aquilo de que se precisa para viver. Sua arte desloca o olhar, convoca o espectador a reconsiderar o valor do ordinário, e reinscreve o Brasil profundo no circuito global, sem folclore nem concessões. Com sensibilidade e rigor, Marepe faz do enraizamento um ponto de partida para um pensamento estético e político singular, que transforma permanência em potência criativa.

Ricardo Sardenberg
Curador

 

Imagem: Marepe. Cabeça acústica, 1995. Foto © Marepe