Iberê Camargo e o ambiente cultural brasileiro do pós-guerra

Curadoria

Fernando Cocchiarale

10.jun

28.ago.11

Ainda que se refira à produção abstracionista de Iberê Camargo, iniciada em 1959, esta exposição não a examina em profundidade. Seu objetivo é mais abrangente e panorâmico: inscrever a obra do artista no ambiente cultural renovador que caracterizou a arte brasileira a partir da década de 1950.

O fim da II Grande Guerra favoreceu a propagação de ideias democrático-liberais em todas as classes sociais dos países vencedores. Aliado dos Estados Unidos, Inglaterra e França, o Brasil do Estado Novo de Getúlio Vargas não tinha mais lugar após a vitória das nações democráticas.

No campo da produção visual, boa parte dos jovens artistas das duas principais cidades do país começa a questionar o modernismo temático predominante nas décadas anteriores. Eles defendem uma invenção formal, livre de associações com as formas da natureza.

Esse salto, entretanto, não foi dado somente por aqueles artistas pioneiros das novas ideias. Nos anos subsequentes, artistas que fizeram a passagem para a abstração de modo solitário e independente também foram fundamentais para a consolidação do novo ambiente cultural. Iberê Camargo era um deles.

Na busca por condições mais favoráveis para o crescimento de seu trabalho, Iberê fixa residência no Rio de Janeiro no mesmo dia em que o Brasil declara guerra ao Eixo, mas logo percebe que a Escola Nacional de Belas-Artes, bastião da arte acadêmica no país, pouco tem a lhe dar. Mergulha, então, em seu trabalho e beneficia-se da convivência com parte do que havia de melhor na arte brasileira da época.

A emergência das tendências não figurativas no horizonte cultural brasileiro colocou em xeque a hegemonia do modernismo da primeira metade do século passado, posto que vetavam assuntos que não fossem os da própria arte.

Pela primeira vez e tardiamente, a arte brasileira pôde, enfim, produzir suas vanguardas, caracterizadas por divergências teóricas e práticas, numa polêmica que se estendeu durante os anos 50 e teve como epicentro o concretismo paulistano e o carioca, tão bem representados nessa exposição.

Fernando Cocchiarale

 

Imagem: Vista parcial da exposição “Iberê Camargo e o ambiente cultural brasileiro do pós-guerra”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 10 de junho a 28 de agosto de 2011. Foto © Cristiano Sant’Anna

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