“Em oposição ao asceticismo cromático dos anos 1960, os anos 1970 abrem com uma explosão de cores. Desde as paisagens e os retratos, dos anos 1940, a cor não tinha tanto destaque na pintura de Iberê Camargo. É uma retomada das origens colorísticas do artista, desta feita a serviço de uma linguagem pessoal e plenamente conformada. A pintura sem título, datada de 1970, é exemplar dessa retomada. As formas indefinidas remetem aos carretéis, mas também às formas imprecisas das gravuras dos anos 1960. A superfície pictórica é densa e plena de movimento, repercutindo na dinâmica das formas que ultrapassam os limites da tela, avançando para cima e para baixo, com se o momento pintado fosse um enquadramento de algo muito maior.”

GOMES, Paulo. Iberê e seu ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares. Fundação Iberê Camargo: Porto Alegre, 2015. p. 54.