Símbolos, 1976
óleo sobre tela
93 x 132 cm
Acervo Fundação Iberê
Tombo P077
Foto © Fundação Iberê
“Ao longo dos muitos anos durante os quais Iberê explorará esse tema [do carretel], a materialidade da pintura ganhará cada vez mais importância, fazendo da forma do objeto um elemento cada vez menos decisivo. O próprio título das obras muda, e a palavra ‘carretel’ é substituída por ‘brinquedo’, ‘figura’, ‘contraste’, ‘símbolos’ ou, ainda, ‘signos’. Desde então, o olho retém primeiramente a presença sensível da cor que praticamente adquire volume, como uma massa resplandecendo da própria matéria, profunda e sensual. É sobre esta matéria, que se torna matéria-prima, que o desenho vem então se superpor. Neste corpo a corpo com a cor, o traço do pincel torna-se cada vez mais visível, atestando a força dinâmica do gesto. Assim, abre-se um capítulo novo na pintura de Iberê que se libera pouco a pouco dos limites dos objetos para dar maior importância ao impulso do próprio gesto de pintar.
Essa evolução para uma pintura por vezes fortemente gestual conduzirá Iberê às fronteiras da abstração através da exploração de formas muito simples como aquela do dado. […]”
LEENHARDT, Jacques. Iberê Camargo: os meandros da memória. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2010. p. 32.
“Para além de manter-se vinculado a uma história inexorável da pintura que surge a cada vez que o pintor age sobre a superfície da tela, apropriando-se, de modo mais ou menos intencional, de um conjunto de soluções pictóricas prévias, o que mais interessa é a possibilidade de tal prática continuar produzindo surpresas para o olho. A densidade histórica da pintura leva necessariamente a um adensamento do tempo da percepção, a um tipo de experiência perceptiva oposta à dispersão e afetação da imagem-movimento contemporânea. A pintura, diferentemente dos meios técnicos de produção de imagens, mais do que exigir, produz um olho sensibilizado pela materialidade da aparência, como que sempre percebendo as coisas com um olho-tátil, um olho que toca a pele do mundo. A própria luz na pintura diferencia-se por ter espessura; é uma luz-matéria.
Desse modo, vemos que a obra de Iberê, depois de ter ‘transformado a natureza em ritmos e sensações coloridas’, vai dar à pintura uma densidade material absolutamente determinante. Não era à toa sua briga obsessiva por boas tintas. A técnica não é um instrumento experimental, mas um processo experiencial. Ela não é um meio manipulável de fora, mas uma experiência vivida de dentro. A pintura em Iberê não é comunicação visual, mas formação visual. A forma nasce de dentro das camadas de tinta, do movimento das pinceladas, que ficam na superfície da tela para serem tocadas pelos olhos que as vêem.”
OSORIO, Luiz Camillo; SALZSTEIN, Sônia (org.). Diálogos com Iberê Camargo. São Paulo: Cosac Naify, 2003. p. 73-74.