Composição, 1980
óleo sobre madeira
42 x 30 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo P089

Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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“Minha pintura em nenhum momento abandonou a estruturação da fase dos carretéis. Esses, embora pareçam soltos, livres no espaço (fundo) do quadro, estão solidamente interligados por linhas de força, como os corpos celestes no sistema planetário. Por isso, não sinto nenhuma afinidade com Pollock ou De Kooning. Minha volta à figura (em verdade nunca a abandonei) se deve ao esgotamento do tema e à necessidade de tocar a realidade que é a única segurança do nosso estar no mundo – o existir. […]”

LAGNADO, Lisette. Conversações com Iberê Camargo. São Paulo: Iluminuras, 1994. p. 27. (Fala de Iberê Camargo).

 

“Com Iberê, o corpo-a-corpo do pintor com a tela talvez atinja sua máxima significação. A acumulação de matéria, as raspagens e incisões por um lado; por outro, a construção-desconstrução de signos, que criam camadas sucessivas, que se escondem uns por baixo dos outros; e, ainda, as acumulações de cores, que vem do fundo, que se modificam sucessivamente, cada vez mais sombrias (talvez, pela própria acumulação), que criam e recriam nuances, sutilezas, muitas vezes por obra do acaso – reações plásticas e/ou químicas de cores sobrepostas e justapostas. Razões internas da própria pintura.
O corpo da pintura não é passivo: carne, osso, pele, sangue. Corpo que possui, também, suas próprias leis, não biológicas, mas plásticas. ‘As formas e cores mais premeditadas, quando se concretizam sobre a tela, são sempre surpresas.’ E o primeiro a surpreender-se é, sempre, o pintor. O quadro se autogera até certo ponto, o pintor descobre, incessantemente, a pintura, e se descobre na pintura.
‘Desejo atingir uma coisa simples, atingir a boa forma com economia de traços. Mas o simples não nasce logo. A matéria tem que virar víscera, para depois ser. Tudo nasce da dor.'”

CATTANI, Icleia Borsa. In: BERG, Evelyn. Iberê Camargo: coleção contemporânea 1. FUNARTE, Instituto Nacional de Artes Plásticas/ Museu de Arte do Rio Grande do Sul: Rio de Janeiro, 1985. p. 51.