Ciclista, 1990
óleo sobre tela
30 x 42 cm
Acervo Fundação Iberê
Tombo P090
Foto © Fundação Iberê
“Essas faces (que se movem sobre as outras, do abismo) retêm muito da nossa humanidade, angústias, alienações civis, ignorâncias particulares e republicanas, sonhos amarrados em candelabros (também carretéis), o amor perdido, a história de um tempo primevo, mítico entre o profano e o divino. […]
Criaturas, com todas as nossas dúvidas, sobressaltos, pedalando, vão sobre alguma irrisória, vã esperança. Mas pedalam. Não estão imunes da impaciência, nem de prováveis amores. Persistem a martelar o caos do mundo, com os implacáveis pés.
E toda a atenção deve ser posta nos olhos. Mesmo que tentemos acrescentar detalhes. Ou extraviá-los. Eles nos conciliam e veem da alma. De dentro de outra história. São olhos indagadores e duros. Longos. Rasgam o vazio, têm luz no amendoado centro, luz que arrasta e move as coisas. Hipnotizam de inocência e morte. […] Sem rancor ou medo, prenunciam um tempo mais humano e justo. O equilíbrio e a energia por detrás do universo.”
NEJAR, Carlos. A arte visceral de Iberê Camargo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 5 jan. 1991.