Mulheres, 1986
óleo sobre tela
57 x 40 cm
Acervo Fundação Iberê
Tombo P099
Foto © Fundação Iberê
“Não seria correto afirmar que ele [Iberê] estivesse então retornando a técnicas pictóricas exploradas na sequência de seus estágios com Lhote ou de De Chirico. Muito pelo contrário, a figura assume ares grotescos, carnavalescos, como num teatro medieval e cruel. Os recursos expressivos de uma pintura apressada, violenta, despreocupada com a anatomia, despreocupada com a correção da anatomia ou com a semelhança constituem a base de seu novo estilo figurativos. Pensamos então em artistas como De Kooning ou Dubuffet que sempre privilegiaram a expressividade burlesca, atentatória à bela figura legada pela tradição humanista. A ironia faz-se agressiva, e a beleza clássica que reivindicava De Chirico já é somente um mito antigo que o pintor parece desejar massacrar.
Mas seja qual for a sorte do conteúdo simbólico dessa nova maneira de representar a figura humana, por mais expressivas que sejam as deformações, Iberê volta à pintura figurativa e isto é uma ruptura maior. Esse retorno oportuniza, como se pode compreender, a aparição do manequim. Este ser artificial, construído, é O OUTRO absoluto de nosso corpo, que vive e sofre suas misérias. O manequim é pura alteridade, forma vazia, inanimada e, entretanto – ou talvez por isso mesmo –, fascinante.”
LEENHARDT, Jacques. Iberê Camargo: os meandros da memória. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2010. p. 33.
“Nessas séries as figuras são tratadas de modo sintético, com ênfase na linearidade de um modelado feito à tinta, espesso e marcante, um desenho que se sobrepõe a um fundo quase chapado. O efeito de intensidade é potencializado pela aparência de máscaras trágicas, nas quais os corpos atormentados e convulsionados são completados por olhos esvaziados, ocos e negros, sem retinas e, portanto, inertes.”
GOMES, Paulo. Iberê e seu ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares. Fundação Iberê Camargo: Porto Alegre, 2015. p. 98.