Retrato da infanta Maria Teresa da Espanha (cópia de detalhe da pintura de Diego Velázquez, 1652-1653), 1949
óleo sobre tela
40 x 30 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo P102

Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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“[…] Em Paris, Iberê estava inteiramente absorvido pela idéia de aprender. […] Iberê se concentrou nos grandes mestres. Sentiu a necessidade de organizar uma linha da evolução da arte muito pessoal, como se se tratasse de estabelecer um marco para a sua própria produção. O interesse pela Renascença foi esse marco. Daí, talvez, a ida a De Chirico, que foi o primeiro revisionista do movimento moderno e detestava a falsa liberalidade do modernismo.
[…] Achava necessário passar por um aprendizado, pelo contato com os grandes mestres, o que não deve, absolutamente, ser confundido com uma reivindicação acadêmica, porque os grandes mestres não são acadêmicos… De Chirico levou Iberê a copiar desenhos de Michelangelo com papel transparente, para entender como as hachuras eram feitas naquelas obras. É como se Iberê se perguntasse: ‘De onde veio essa pintura a que chamamos de moderna?’ Basicamente, ele queria entender a estrutura da pintura, que julgava fragilizada pela dificuldade dos modernos, de aproximar-se dos grandes pintores do Renascimento, do Barroco.
[…] Esses trabalhos de Iberê não eram cópias literais; revelavam, ao contrário, grande liberdade na relação com as obras originais, e tinham o sentido de compreender o ‘sistema’ do outro, mais do que ‘copiá-lo’. […]”

CARNEIRO, Mario; SALZSTEIN, Sônia (org.). Diálogos com Iberê Camargo. São Paulo: Cosac Naify, 2003. p. 26-28.

 

“Ao considerar o problema da formação do artista na adversidade brasileira, Iberê coloca o problema dele próprio. O domínio do saber pictórico vai ser perseguido sem tréguas através de um aprendizado sério, metódico. Não se trata de um problema de ordem apenas técnica: se a pintura constitui uma continuidade, não há separação entre o pintor moderno e os grandes mestres da tradição, daí o indispensável conhecimento profundo dos materiais, dos meios técnicos, do desenho, da gravura. Sem o respeito, até certo ponto convencional e provinciano, que tinha pela alta cultura, não poderia se submeter incondicionalmente a tal tarefa. Para ele, não há oposição entre a alta tradição e a modernidade; a pintura dos grandes mestres ainda é matéria viva e atual, desafio e estímulo que ele sente como poucos pintores de sua época. É bem provável que Iberê tenha sido um dos últimos pintores modernos a fazer cópias no Louvre. Ele não questiona contextos nem influências, aprimora o conjunto das técnicas, as minúcias do ofício, quase indiferente às peripécias da modernidade – é, acima de tudo, um seguro discernimento artístico que tudo discrimina e avalia.”

VENANCIO FILHO, Paulo. Iberê Camargo: diante da pintura. Rio de Janeiro: Fundação Iberê Camargo, 2003. p. 15-16.