Pintor e manequim, 1987
óleo sobre tela
92,8 x 150,5 cm
Acervo Fundação Iberê
Tombo P169
Foto © Fundação Iberê
“[…] O pintor junto com o seu modelo é um tópico amplamente abordado na história da arte. Fonte de erotismo, no caso das pinturas e gravuras de Pablo Picasso, o artista é o voyeur imortalizado no ato do olhar. Iberê trabalhou com modelo vivo e também com manequins. Um exemplo é Pintor e Manequim, de 1987, do mesmo ano da série Fantasmagorias, onde sua musa inspiradora é uma espectral autômata, – a Olímpia do macabro Coppellius? – que foi dotada dos genitais que o anônimo fabricante a tinha privado. As figuras estão no mesmo plano. Assim, Iberê se representa pintando, ou modelando, efetivamente, o manequim, sobre seu corpo, dando-lhe vida como um Pigmalião. Nessa ‘parodia de Deus’, o fazedor-homem-pintor, paradoxalmente, dá a luz morte, carne corrompida, a fantasmagoria de seu interior. A decepção como vivência existencial preside, desde os anos 80, a obra de Iberê, quem declarava que sua intenção ao pintar é ‘plasmar uma verdade’, daí as formas grotescas: ‘(…) não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida, que é a minha vida, e tua vida, é nossa vida nesse caminhar no mundo’.”
HERRERA, María José. Iberê Camargo: um ensaio visual. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2009. p. 17-18.