Miséria 1, 1987
óleo sobre tela
89 x 55 cm
Acervo Fundação Iberê
Tombo P171
Foto © Fundação Iberê
“Minha contestação é feita de renúncia, de não participação, de não conivência, de não alinhamento com o que não considero ético e justo. Sou como aqueles que, desarmados, se deitam no meio da rua para impedir a passagem dos carros da morte. Essa forma de resistência, se praticada por todos, se constituiria em uma força irresistível. O drama, trago-o na alma. A minha pintura, sombria, dramática, suja, corresponde à verdade mais profunda que habita no íntimo de uma burguesia que cobre a miséria do dia a dia com o colorido das orgias e da alienação do povo. Não faço mortalha colorida.
[…]
Para mim arte e vida confundem-se.”
CAMARGO, Iberê; MASSI, Augusto (org.). Gaveta dos guardados: Iberê Camargo. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 135.
“A pintura de Iberê sintetiza toda essa ordem de fatores pessoais e culturais. Artisticamente resulta numa trajetória altamente íntegra, isto é, realizada com o mesmo empenho, o que traz como conseqüência uma obra de pouquíssimos desníveis, toda ela de igual qualidade, tanto nas pinturas mais bem-sucedidas como nas demais. Existencialmente, a obra exala um desconforto com certos modos de sentir brasileiros, a inquietude, a intransigência, a solidão pondo Iberê do outro lado da nossa sociabilidade, aquela, em tese, do ‘homem cordial’. Nessa chave não se compreende sua pintura violenta, áspera, anti-sentimental, agressiva. Como Goeldi, Iberê fala do ‘custo’ subterrâneo dessa vivência, da miséria e injustiça que se escondem atrás de tão ameno trato social. Nesse ponto, por mais paradoxal que possa parecer, a violência em Iberê lembra uma frase de Hélio Oiticica: ‘ violência é justificada como sentido de revolta, mas nunca como o de opressão’. E a revolta é um dos impulsos fundamentais da obra de Iberê, quem sabe o mais fundamental.”
VENANCIO FILHO, Paulo; SALZSTEIN, Sônia (org.). Diálogos com Iberê Camargo. São Paulo: Cosac Naify, 2003. p. 132.