Natureza-morta 14, 1957
água-tinta a pincel (crayon litográfico)
29,6 x 39,5 cm
Acervo Fundação Iberê
Tombo G065-1
Foto © Fabio Del Re_VivaFoto
“[…] A partir de então [de uma hérnia de disco que impede o artista de pintar ao ar livre], os temas de seus quadros são garrafas, frutas, púcaros e outros objetos que ele arruma sobre uma pequena mesa. Uma espécie de cenário pobre e restrito de onde terá que extrair o alimento de sua arte. Mas isso não o atemoriza; é antes um desafio que ele aceita. Giorgio Morandi não construiu toda uma obra magnífica pintando garrafas e vasos empoeirados também trancado em seu ateliê?
É aí, preso em um horizonte fechado, que Iberê inicia a lenta corrida para o grande salto que mudará radicalmente o rumo de sua obra.”
GULLAR, Ferreira; SALZSTEIN, Sônia (org.). Diálogos com Iberê Camargo. São Paulo: Cosac Naify, 2003. p.15.
“Por volta de 1956, 1957, Iberê já goza de prestígio como gravador. É quando, em quatro naturezas-mortas, submete alguns poucos objetos e frutas à extraordinária geometrização. Essas gravuras em água-forte, junto com as respectivas provas de estado formam um conjunto que sugere aproximações com as naturezas-mortas de Morandi. A obra do grande artista italiano lhe é familiar desde 1948. Coincide com sua estada em Roma a apresentação, na Calcografia Nazionale, da antologia organizada por Petrucci de 88 águas-fortes de Morandi, a partir da qual o bolonhês começa a ser reconhecido entre as mais altas expressões do século XX […]. Em diálogo com a obra morandiana, Iberê cria uma sucessão de gravuras e pinturas em que objetos utilitários são apresentados com tal solenidade que mais parecem integrar uma liturgia profana. A densidade emocional que emana desses arranjos permite equipará-los às singelas, porém enigmáticas, natura in posa de Morandi.
[…] Esse compartilhar de princípios não significa que o mais jovem seja tributário do mais velho. Por temperamento e opção, o único compromisso que reconhece é com a própria sensibilidade. O importante é notar que Iberê, ao se aproximar da estética morandiana na fase das naturezas-mortas, revela o que há de mais característico em sua obra: a dialética entre o sensorial e o intelectual.”
MILLIET, Maria Alice. O “outro” na pintura de Iberê Camargo. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2012. p. 22-23.