Dinâmica de carretéis, 1960
maneira-negra e ponta-seca
19,9 x 59,2 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo G089-1

Foto © Rômulo Fialdini

Download

“Retornando ao Brasil, voltei à paisagem e à natureza-morta com a preocupação de reencontrar o veio que, como já referi, pressentira nos primeiros quadros. Compreendi que o problema estava em mim, exclusivamente, e não nos outros, isto é, a solução estava dentro e não fora.
Daí por diante a minha pintura passou a ser conscientemente expressão: a energia das formas nas suas mútuas relações tornou-se a preocupação constante das minhas composições. Os carretéis, ponto de partida, da fase atual, a princípio estáticos, dinamizarem-se.
Inspirados no vôo dos pássaros, no movimento ondulatório das pandorgas, nos moirões à beira das estradas, que desfilam durante a corrida vertiginosa de um automóvel, serviram-me de base à dinamização das formas já então despidas de todo o aspecto representativo para se tornarem realidades em si mesmas. Seria difícil precisar o estímulo que me leva a realizar um quadro: revoada de pássaros, velocidade, cor, carretéis, fundos de sangas…
Algumas dessas coisas posso colocar sobre a mesa, como faz o pintor de naturezas-mortas. Mas como poderei colocar sobre essa mesa as formas que o inconsciente põe nas minhas mãos?”

MARTINS, Vera. Iberê Camargo, prêmio de pintura da Bienal. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 12 set. 1961. (Fala de Iberê Camargo).

 

“[…] Dinâmica de carretéis e Caramujo são elaboradas à maneira-negra, procedimento técnico que, além de potencializar o obscurecimento intenso das superfícies, gera efeitos aveludados na percepção da gravura. É um processo que data de meados do século XVII e exige grande disciplina e rigor técnico para sua elaboração. Poucas são as gravuras de Iberê nas quais esse recurso é aplicado; seus resultados, no entanto, construídos mediante o particular esmero de seu processo de trabalho, acentuam o misterioso clima de cada uma dessas obras. […]”

ZIELINSKY, Mônica. Iberê Camargo: catálogo raisonné. Cosac Naify: São Paulo, 2006. p. 92.