sem título, 1970
colagem sobre papel
43 x 51,5 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo D1127

Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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“Minha presença como professor na penitenciária de Porto Alegre teve um caráter exclusivamente filantrópico. Procurei libertar os meus alunos presidiários pela fantasia. Eu os orientava sem submetê-los a nenhuma disciplina ortodoxa. Incentivava-os a trabalhar com espontaneidade, com a liberdade da criança. Reprimir-lhes a criatividade com regras seria encarcerá-los pela segunda vez. Aprendi nessa experiência humana que só a sinceridade da nossa dádiva pode tocar um coração em revolta.”

CAMARGO, Iberê. Minha paixão pelo lápis de cor e caderno de desenho. Rio de Janeiro, maio de 1979. (Entrevista para Pierre Courthion).

“Um desenho de 1970, quando os ciclistas ainda não haviam surgido em sua obra, ilustra a constância do interesse que a temática do equilíbrio como emblema da tragédia humana despertou no artista.
A cena representa um picadeiro de circo […].
Essa imagem remete de imediato ao circo de Calder, outro mestre da posição móvel – estável. O mundo grotesco de Iberê, terno e trágico, é um teatro que vê desfilarem, estáticos ou móveis, seres fantasmáticos. Homens ou mulheres, palhaços ou marionetes, o destino que lhes escapa carrega-os, impotentes, para o fim. Os muitos figurinos de teatro ou circo lembram que a pintura é sempre uma representação em defasagem com a vida, um carnaval em que o ator – e aqui reside seu paradoxo – representa-se a si próprio.”

LEENHARDT, Jacques. Iberê Camargo: os meandros da memória. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2010. p. 36.