sem título, 1993
guache e lápis Stabilotone sobre papel
50,2 x 70 cm
Acervo Fundação Iberê
Tombo D3211
Foto © Rômulo Fialdini
“[…] Por exemplo, eu zombo do papa, da missa, zombo de tudo isso, acho tudo um teatro. Mas não zombo daquele homem que tem no coração uma fé, e que busca… esse eu respeito, esse me comove. Porque se as pessoas amassem, se procurassem com sinceridade, elas não iam fazer catedrais nem nenhuma igreja em lugar nenhum, elas se recolheriam e fariam a oração mais profunda, mais verdadeira, mais inquietante, que pode estar no coração de um homem, isso sim! Por esse eu tenho uma admiração, e um respeito, e me sinto tão chegado a ele, esse sim, esse é o santo; mas os outros? Os outros são, como dizia o Nelson Rodrigues, ‘padres de passeata’. Quer dizer, pessoas que estão ali, mas que não têm religiosidade, não têm aquele sentimento profundo. Pode ser até um papa… Mas essa coisa que está no coração, dentro da pessoa, do místico, isso é outra coisa… […]”
COTRIM, Cecília. A paixão na pintura. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 34, 1992: p. 110-111. (Fala de Iberê Camargo).
[…] O peso moderno, decantado até o limite no campo dos últimos desenhos de Iberê, passa outra temperatura, outro tônus, que uma época já desnorteada, recicladora como a nossa, entende melhor em sua cruel ironia e dor mais simbólica. […] surpreende a proximidade com as cabeças da idiotia representada por Iberê, tão próximas das cabeças da casta judicial (, juízes) de Honoré Daumier (veja-se a roupa togada que faz desaparecer as formas particulares do corpo, uma forma mais de colocar a consciência do juízo no lugar mais alto). O volume e a importância da cabeça (racionalidade) exagerada no artista francês são arrastados por Iberê a outra caricatura (no limiar da consciência, um estado limítrofe).”
NAVAS, Adolfo Montejo. Conjuro do mundo: as figuras-cesuras de Iberê Camargo. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2012. p. 19-20.