Matriz para a gravura Ciclista, 1989
cobre
15 x 19,5 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo MG028

Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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“Na minha opinião uma gravura só é boa se tudo o que se vê na estampa está na chapa. Isto é, o gravador pode entregar a sua chapa a um artesão para tirar cópias iguais. Tudo está ali, gravado na chapa, nada foi conseguido com truques ou recursos na hora da estampagem. Essa é para mim a condição essencial de uma gravura.
[…]
Propus certa vez que a verba do Salão Nacional de Arte Moderna destinada à aquisição de trabalhos expostos, incluísse a aquisição da matriz da gravura, isto é, da chapa gravada e não apenas da estampa. Minha idéia não foi aceita, alegaram que o artista sairia prejudicado. Ora, não vejo que prejuízo terá um artista em vender sua chapa, que ficará guardada num museu, depois que ele já tirou determinado número de cópias. E moralmente ele está impedido de tirar outras cópias, desde que numerou a tiragem. No Brasil ninguém pensa no futuro, ninguém pensa em guardar e conservar esse material que irá constituir o acervo artístico do país que – se a bomba atômica não destruir o mundo – terá um dia quatro, cinco mil anos.”

SOUZA, Claudio Mello e. É preferível ser um verme que parecer um leão. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5 jan. 1958. (Fala de Iberê Camargo em entrevista).

 

“[…] o material da gravura é um material que exige certa disciplina. Quer dizer, há certas coisas que um gravador não pode fazer porque não conseguiria, porque trabalha com o metal, com um material que não é dócil, quer dizer, ele tem a interferência dos ácidos. Há muita coisa entre ele e a expressão que ele busca. Há muitas etapas para se vencer. Ele tem que dominar o material e transformá-lo em expressão. […] O material oferece muita resistência que o pintor precisa vencer. E daí ele tem que tomar precauções. Não se pode fazer as coisas de imediato. Há um tempo em que a chapa dorme no ácido, e esse tempo ele tem que respeitar. Não posso dizer: eu quero isso de imediato, como quero a pintura. Então esse é um empecilho para o gravador. É por isso, por exemplo, que um pintor raramente usa um buril, pois é uma técnica muito fria, uma técnica de muita disciplina, de muito tempo, de muita maestria. Tudo isso o impede de ser um burilista. Ele sempre procura processos mais pictóricos, mais rápidos, para se adaptar à sua necessidade expressiva.”

MARTINS, Carlos; MARTINS, Marcos André. A gravura de Iberê Camargo – uma retrospectiva. Banco Francês e Brasileiro: Porto Alegre, 1990. n.p. (Fala de Iberê Camargo em entrevista).