Mendigos do Parque da Redenção, 1987
grafite e tinta de esferográfica sobre papel
21,8 x 32,5 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo D0624

Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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Alguns dos moradores de rua presentes no Parque da Redenção são retratados por Iberê de modo a dar corpo a sua quase invisibilidade. Nessas obras, o artista busca capturar o que está por debaixo da pele dos sujeitos – forma que já vinha explorando nas pinturas da série Fantasmagoria, realizadas neste mesmo ano. Aqui, foram modelos os moradores de rua que estavam reunidos junto à Fonte Francesa, chafariz de ferro fundido instalado no Recanto Europeu do parque.

“[…] Acompanhei inúmeras jornadas do artista pela procura dessas imagens que nos ferem com delicadeza, cheias de visualidade e significados. Esses rascunhos já por si são maravilhosos, mas serviam para recriações na volta ao estúdio; surgiam daí guaches sobre papel, elementos novos nas pinturas e potentes gravuras em metal. Foi num dia desses, quando o Iberê ainda morava na rua Lopo Gonçalves, que saímos a pé para mais um percurso no Parque da Redenção. O artista com o seu caderno de desenhos e eu carregando alguns dos seus pertences. Chegamos na fonte entre árvores, naquele momento riscada pela luz do sol: um cenário de filme. À volta dela vários mendigos conversavam e lavavam as suas roupas. O artista pareceu iluminado. Apenas com os olhos e a mão em movimento, executou desenhos lindos e fluidos como música. Depois num gesto de gratidão pagou os modelos: entregou uma nota de dinheiro a cada um deles e fomos embora. Nesse dia uma figura me provocou a atenção: o homem flagrado de frente, curvado sobre o espelho d’água da fonte, com o olhar fixo no artista e suas costas acima da própria cabeça, passava uma sensação simultânea de dignidade e sofrimento, como se estivesse pronto para carregar o peso do mundo.” (Gelson Radaelli, depoimento em fevereiro de 2019).