Exposição a céu aberto de obras de Iberê Camargo celebra o aniversário da Fundação que leva o nome do artista
No próximo dia 30 de maio, o prédio da Fundação Iberê completa treze anos de portas abertas. Construído num terreno de uma antiga pedreira desativada, às margens do Guaíba, o centro cultural tornou-se uma das imagens referenciais de Porto Alegre para o Brasil. A arquitetura do português Álvaro Siza, ganhador do Prêmio Pritzker em 1992, captou o espírito angustiado e complexo de Iberê Camargo, materializado na espacialidade interna labiríntica de passarelas suspensas. O caráter expressionista e sombrio das obras do artista contrasta com a brancura do espaço. A Fundação é o único trabalho de Siza no país e de efetivo impacto internacional desenvolvido a partir de 1998.
Para celebrar a data, neste sábado (29), das 19h às 22h, a Fundação e o Grupo WOC/Visual apresentam um vídeo mapping no próprio prédio, a partir de uma seleção de obras de Iberê e de suas frases mais marcantes. Segundo o diretor-superintendente Emilio Kalil, o evento é um presente aos porto-alegrenses, em especial, aos frequentadores da orla, que fazem do entorno um cartão postal da cidade.
Um sonho de Iberê
Por toda a vida, Iberê Camargo e Maria Coussirat Camargo tiveram todos os cuidados para que as obras perpetuassem intactas. Trataram de formar uma coleção completa, documentaram cada passo, chamaram bons fotógrafos e deixaram todas as pistas para uma boa reconstituição biográfica.
O sonho de ter a própria Fundação estava delineado antes mesmo da morte do pintor, em 1994, e sua viabilização foi muito rápida. No ano seguinte já ocupava a casa-atelier de Iberê, no bairro Teresópolis. Artistas convidados mantinham a prensa de gravuras funcionando, curadores selecionavam obras para expô-las na “casa-fundação” e pesquisadores, curadores e críticos foram envolvidos em um processo de pesquisa, catalogação e discussão dos destinos do centro cultural.
Siza chegou a Porto Alegre, em maio de 2000, com a maquete do projeto pronta. “Temos que trabalhar como um alfaiate aqui”, disse o arquiteto na época, ao se referir à necessidade de ajustar um espaço museográfico condizente com as obras de Iberê. O terreno que abriga a fundação também era outra dificuldade para Siza: “Estou trabalhando numa parte muito especial da cidade, com uma vista belíssima para o Guaíba, em um terreno localizado na encosta com vegetação e que tem quer ser ocupada por um edifício por não dispor de muito espaço. Isso criou uma grande dificuldade no projeto. Mas os projetos se desenvolvem melhor a partir de grandes dificuldades”.
Nesses 8.250 m² de área total, a construção também faz questão de reforçar a importância do entorno, com janelas emolduradas para o Guaíba como se fossem quadros vivos. A indicação é que os visitantes subam de elevador ao quarto andar assim que chegam ao museu. De lá, a própria construção guia a visita pelas rampas que entram e saem do edifício como se fossem braços.