Qual o limite da arte?

21.set.21

Guilherme Tavares, 39 anos, e Tales Macedo, de 24, vivenciaram com Eduardo Haesbaert a técnica da gravura na prensa que pertenceu a Iberê Camargo e que já recebeu mais de 100 grandes nomes da arte brasileira. Foram duas semanas intensas de pesquisa, de teste e de novas descobertas. Os artistas foram os vencedores do Bolsa Iberê/CMPC 2021, que recebeu 72 inscrições em sua retomada e que fará parte da programação anual como uma ação continuada.

 

Para o diretor-geral da CMPC no Brasil, Mauricio Harger, “o intuito é promover, cada vez mais, um universo de possibilidades, de maneira que os artistas selecionados possam cocriar e expandir o alcance da arte, da cultura e da educação, fomentando a pesquisa e a experimentação”. 

O “cocriar” destacado por Harger vai ao encontro do objetivo do Ateliê de Gravura: aprimorar o trabalho a cada prova impressa. São feitas várias tiragens, até chegar ao resultado final. 

Designer gráfico, fotógrafo e mestre em Artes Visuais, pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Guilherme passou dois dias fotografando o cotidiano de Porto Alegre como parte do seu trabalho de prospecção. “Durante o mestrado desenvolvi uma pesquisa articulada em torno da fotografia a partir de deslocamentos (derivas, deambulações) pelo espaço urbano. Meu interesse volta-se para o encontro de situações efêmeras e fenômenos estéticos na superfície da cidade, tais como texturas em paredes descamadas, cartazes dilacerados (décollages) e projeção de sombras anamórficas de aparatos urbanos (grades, lixeiras, postes, etc.). Tais situações descobertas de forma análoga aos objetos encontrados (objet trouvées), são colecionadas por meio da fotografia. A partir dessa matéria-prima, passo a produzir obras e ações artísticas, que vão desde intervenções urbanas até arte postal. Interessa-me também explorar os cruzamentos entre arte, design e arquitetura”, conta. 

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Tales, que vem da pintura, fugiu ao projeto inicialmente proposto para a sua residência na Fundação Iberê. Ao conhecer Eduardo Haesbaert, foi instigado às novas possibilidades com mãos livres. Dessa relação, surgiu uma sequência de trabalhos, que foram sendo gravados uns sobre os outros. “O Ateliê é um ambiente de experimentação pictórica, onde fui apresentado aos desdobramentos possíveis. Venho da pintura e percebi a qualidade da gravura, principalmente, a partir da monotipia e da impressão, as nuances que vão aparecendo, aos ‘fantasmas’ das impressões anteriores que trazem mais textura e qualidade à imagem. Este trabalho na Fundação Iberê será transportado para novas linguagens”, destacou.   

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Fomento a produção artística


No final de junho, a Fundação Iberê e a CMPC se uniram para retomar o proeminente programa de incentivo à produção artística. Criado em 2001, fomentou, no seu transcorrer, diversos projetos e ideias, atraindo artistas, que, mais tarde, se tornaram reconhecidos por suas técnicas e obras. Paralisado por sete longos anos, o programa Bolsa Iberê retorna em 2021, buscando recolocar o olhar do artista sob novas circunstâncias, proporcionando, mais uma vez, o contato direto com outras produções e sistemas de arte. A edição deste ano focou na produção regional, abrindo um processo seletivo estrategicamente dirigido à produção contemporânea das cidades de Guaíba, Pelotas e Rio Grande, áreas de atuação da CMPC. 

O edital recebeu 72 inscrições e, após um processo de análise de portfólios e projetos, por uma comissão coordenada pelo artista e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Paulo Amaral, foram selecionados Guilherme Tavares e Tales Macedo para uma imersão artística no acervo de obras e documentos, assim como no ateliê  da Fundação.

Ao final do processo, uma certeza: a importância do incentivo e do investimento na livre pesquisa artística, considerando que oportunidades como essas podem influenciar a trajetória desses artistas, ao mesmo tempo em que compartilhamos com o público suas potências e efeitos.