Arte de rua ganha exposição na Fundação Iberê
“Abrir as portas de um museu ao street art é discutir, no cenário das artes visuais, o papel de uma cultura tão importante para as grandes metrópoles”. (Daniel Melim)
O artista Daniel Melim chega esta semana a Porto Alegre para acompanhar a montagem de sua exposição inédita Reconstrução, que abre no dia 7 de agosto (sábado), no quarto andar da Fundação Iberê. Com curadoria de Miguel Chaia e co-curadoria de Baixo Ribeiro e Laura Rago, a mostra apresenta doze obras da mais recente produção, aliando trabalhos de grandes formatos com outras menores, que tem como foco principal a pintura oriunda da arte urbana.
“Com exceção dos trabalhos “Ser” e “Só foi isso que sobrou”, apresento, pela primeira vez, um recorte de obras da minha pesquisa sobre a pintura, uma linguagem tão clássica das artes visuais, mas que trago revigorada, principalmente, através do grafite e da minha relação com a arte urbana”, explica o artista.
Melim é considerado um dos nomes mais importantes no cenário da street art. Um dos seus trabalhos, a grande pintura da moça loira que ocupa a lateral de um prédio perto da Pinacoteca de São Paulo, na avenida Prestes Maia, foi eleito, em 2013, como o mural representativo da cidade.
Chaia, professor da pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-SP e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política, na mesma universidade, destaca que as pinturas de Daniel Melim estão impregnadas por situações e personagens urbanos que circulam nas grandes metrópoles: trabalhadores, donas de casa, crianças, anônimos diversos. Figuras retiradas tanto da observação do real quanto do imaginário simbólico disseminado pela indústria cultural na sociedade. “Melim elabora seu trabalho a partir de São Bernardo do Campo, Grande ABC, Região Metropolitana de São Paulo. Neste pólo industrial destacado, as relações sociais são esgarçadas por esta forma de produção, pela densidade populacional, por problemas de infraestrutura e pela desigualdade social. O cidadão Melim enfrenta, pelo ativismo, esses problemas em comunidades da periferia; enquanto o artista Melim acolhe/recolhe, em suas telas e com afeto, mulheres – muitas -, homens e crianças. Trata-se de uma pintura social que não instrumentaliza a arte e consegue criar uma beleza estranha, que conduz à apreciação de conjuntos de relações entre cores e formas.
Para o superintendente da Fundação Iberê, Emilio Kalil, tudo na produção de Melim é uma reflexão do mundo, com seus problemas e suas epifanias sociais. “O que mais me impacta é a consciência deste artista, um homem que não esqueceu suas origens na street art, permanente fonte de inspiração. Àquele que diz conto com sua ajuda, que quer lutar onde crack is pop, já que foi só isso que sobrou no sofá, com um buque de Zéfiro, com Jurema e seus mesmos rasgos, tentando ser o que dizem sobre nós. Brincadeiras à parte, quando tomo emprestado os nomes das obras desta exposição, tudo é muito sério. Tudo nos rodeia”.
Visitação – As visitas de sexta a domingo devem ser agendadas pelo Sympla (https://bileto.sympla.com.br/event/66447/d/102506). Às quintas-feiras, a entrada é gratuita e por ordem de chegada. Obrigatório o uso de máscara, a medição de temperatura e o distanciamento social.
Encontro com o artista
Neste sábado, às 16, Daniel Melim bate um papo com o público sobre sua trajetória e pesquisas sobre arte urbana e os caminhos que o levaram para os principais centros culturais do Brasil. O encontro ocorre no auditório da Fundação Iberê por ordem de chegada e com número limitado de público. Obrigatório o uso de máscaras. O encontro também será transmitido ao vivo pelo Instagram da Instituição.