Curadores da 14ª Bienal do Mercosul assinam a exposição Iberê Camargo: estruturas do gesto

No dia 14 de junho (sábado), a Fundação Iberê inaugura a exposição Iberê Camargo: estruturas do gesto. Raphael Fonseca, Yina Jiménez Suriel e Tiago Sant’Ana, curadores da 14ª Bienal do Mercosul foram convidados para assinar a seleção de obras que fazem parte do acervo da instituição. São 58 trabalhos, entre desenhos, gravuras e pinturas, produzidos entre 1940 e 1994, ano da morte do artista. Chama a atenção os desenhos de crânios e gatos presentes na mostra, que também participaram da mais recente edição da Bienal.
“Ao longo dos seus mais de 50 anos de produção, é impossível passar incólume à obra de Iberê Camargo quando pensamos num panorama histórico da Arte Brasileira. O desdobramento de sua poética ao longo de distintas linguagens atesta a multiplicidade e perspicácia do artista naquilo em que foi mais pródigo: a experimentação matérica através de uma liberdade gestual muito característica, marcada pelos tons terrosos e por certa inclinação para uma atmosfera que flerta tanto com um olhar mais voyeurista para o cotidiano quanto para um ambiente mais soturno e melancólico”, destaca Fonseca.
O curador explica que em Estruturas do gesto é apresentada uma justaposição de obras em que o movimento e o deslocamento servem tanto como metáfora quanto como estratégia, embaralhando qualquer pretexto em desenhar uma linha cronológica em prol de um interesse e de uma mirada mais conceitual sobre a obra do artista, focada numa proposta de experimentação formal: “As obras elencadas na exposição nos levam por um caminho para sentir que a riqueza das obras de Iberê Camargo reside justamente na maneira como a sua memória e o seu traço sustentam, sem remorsos, estruturas que fazem uma ode ao gesto, que capturam, sem aprisionar, um determinado momento, feito à maneira de alguém que tem consciência de que o tempo é fugidio. Essas obras dão a ver que é no deslocamento e na fugacidade que residem os reveses do viver.
Estudos para o mural da Organização Mundial de Saúde
Um dos destaques da exposição é um estudo feito em 1966 para o painel da Organização Mundial de Saúde (OMS) em guache, pastel seco e grafite sobre papel.
Criada no segundo pós-guerra (1947), no contexto da reconstrução e da reorganização do mapa político internacional, a OMS recebeu doações de todos os países membros para construir e equipar a sua sede na Suíça. O Brasil, por meio do Ministério de Relações Exteriores, ofereceu um presente cultural: uma pintura original que Iberê realizaria in loco. Foram quatro meses de trabalho em uma pintura 49 metros quadrados. Para criar uma “vegetação colorida”, Iberê realizou uma série de esboços e começou a brincar livremente com as formas.
Trinta estudos feitos com grafite, guache, grafite, lápis de cor, nanquim, tinta a óleo e outros materiais ficaram guardados por mais de 40 anos nos porões da agência de Saúde da Organização das Nações Unidas (ONU) em uma caixa lacrada com o inédito projeto de Iberê, com uma mensagem do próprio artista escrita na tampa: “Não dobre e não remova nada sem a autorização do diretor-geral”.
Eles só foram descobertos em 2007, após uma consulta da Fundação Iberê, a pedido de Maria Coussirat Camargo. A caixa foi aberta em janeiro de 2008, na presença de autoridades da Organização Mundial da Saúde, e encontram-se preservados no Arquivo da OMS, em Genebra, como parte do presente do governo brasileiro. Iberê e Dona Maria mantiveram alguns estudos, que estão sob os cuidados da Fundação.