De Renoir a Tarsila do Amaral, Coleção Luiz Carlos Ritter apresenta na Fundação Iberê parte de seu acervo

02.maio.24

De 18 de maio a 11 de agosto, a Fundação Iberê apresenta parte do acervo de Luiz Carlos Ritter, um dos maiores colecionadores e emprestadores de obras para exposições no Brasil e no exterior. Com curadoria de Max Perlingeiro e curadoria-adjunta de Bruna Araújo, Coleção Luiz Carlos Ritter é uma oportunidade ímpar de o público ver de perto 83 obras de nomes famosos da arte.

Flores e naturezas-mortas de Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti, Alberto da Veiga Guignard, Candido Portinari, José Pancetti e Victor Meirelles. O modernismo, outro núcleo importante da coleção, é representado por obras de Guignard, Volpi, Portinari, Di Cavalcanti e Flávio de Carvalho. Já o Núcleo Gauchismo da mostra contará com nove obras de Iberê Camargo e outras dez de Pedro Weingärtner.  

 Na categoria estrangeiros, obras de Giorgio Morandi, Alfred Sisley, Joaquín Torres García e Pierre-Auguste Renoir. Importantes obras de artistas contemporâneos, como Lygia Clark e Hélio Oiticica, também integram a mostra 

“Sempre fui ligado em artes plásticas e em artes no geral. No início, comprava para ‘vestir’ as então poucas paredes. Até que, num determinado momento, me deparei com uma realidade: havia comprado mais do que devia. Aí surgiu a necessidade de uma organização”, diz ele, que compilou parte no livro Coleção Luiz Carlos Ritter (edições Pinakotheke), lançado em setembro de 2022.  

Como ele mesmo diz, na publicação, sua coleção tem um arco de 400 anos, com ênfase no Modernismo. Nas 304 páginas constam obras e fichas técnicas de pinturas, desenhos, aquarelas e gravuras de grandes nomes brasileiros e da arte mundial. Os textos são assinados por amigos próximos e conhecedores de seu acervo, que inclui um jardim de esculturas em uma propriedade sua no Espírito Santo. Nélida Piñon, Vanda Klabin, Clelio Alves, Ana Cristina Reis e Ricardo Linhares estão entre os escritores. Há, ainda, entrevista feita por Max Perlingeiro – de onde transcrevemos alguns trechos para a Carretel –, que organizou e planejou o livro e a exposição com Ritter. 

Da maior cervejaria do Rio Grande do Sul para o mundo das artes
Luiz Carlos Ritter nasceu, em Porto Alegre, em uma família de cervejeiros. Ritter – a primeira cervejaria do Rio Grande do Sul – foi criada em 1868 pelo seu tataravô. Em 1924, a empresa se uniu a Bopp e a Sassen para fundar a Continental, a mais importante cervejaria do Estado na época, que se instalou no prédio da Bopp, na rua Cristóvão Colombo, com todo o seu maquinário.  

Em 1946, ano de nascimento do colecionador, a cervejaria Continental se fundiu com a Brahma, em um crescimento em direção ao centro do país. Hoje, o prédio histórico faz parte do Shopping Total e é patrimônio cultural de Porto Alegre. 

Aos 6 anos de idade, acompanhou os pais Vivian e Edgar na mudança para o Rio de Janeiro, onde vive até hoje. Atuou como Diretor de Recursos Humanos da Brahma, hoje AmBev, mas, a partir dos anos 1980, decidiu dedicar-se também às artes plásticas, ao colecionismo e às atividades ligadas a obras sociais. Seu acervo soma centenas de obras de grandes nomes da arte brasileira e internacional, que vão do século 17 ao 21.  

O gosto pela arte veio dos pais que, segundo Ritter, tinham bom gosto e estavam atentos às oportunidades. Deles herdou Pancetti, Guignard, Pedro Weingartner, Angelo Guido e Aleijadinho, exposto pela primeira vez em 2018, no MASP.  

Já adulto, viajou pela primeira vez para a Europa e Estados Unidos e percorreu todos os possíveis museus, um de seus programas prediletos até hoje. O que mais o influenciou foi o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Ler sobre artes, biografias dos artistas e visitar museus sempre com um novo olhar. “Nos últimos anos, todos os museus mudaram suas expografias, e revisitá-los tem sido emocionante”, destaca.  

O primeiro quadro de Luiz Carlos Ritter, e que o acompanha até hoje, foi Paisagem de Sete Lagoas, do pintor mineiro Inimá de Paula, em exposição individual na Galeria Bonino, na Rua Barata Ribeiro, no Rio de Janeiro. “Passei de carro ou de ônibus, não me lembro, e vi a exposição sendo montada. Ele estava destacado. Havia uma vitrine que avançava para a calçada, e esse quadro estava fixado ali. A exposição abriria à noite, naquele dia. Lembro que parei adiante e voltei. Conversamos muito; a proprietária da galeria, Giovana Bonino, inesquecível. Era muito caro para mim à época, mas ela me financiou… Da primeira obra o colecionador nunca esquece, nos mínimos detalhes”, conta.  

São mais de 40 anos de uma coleção privada que, hoje, soma centenas de obras. O destino delas, Luiz Carlos Ritter pensará no momento oportuno: “O colecionador tem a ventura ou a sorte de possuir, por um período, a propriedade dessas obras. E posse tem prazo de validade. É destino de toda a coleção consistente se tornar pública. Toda vez que faço um ‘empréstimo’, um pedaço de minha coleção se faz pública. De outra forma, a coleção ficaria restrita aos amigos e às pessoas que vão à minha casa. Os museus necessitam desses ‘empréstimos’. Grandes coleções se incorporaram a museus”.  

FOTO
CANDIDO PORTINARI (1903-1962)
Cangaceiro e seu irmão, 1951 Óleo, guache e grafite sobre papelão 31,8 x 35,7 cm
Crédito: Foto Jaime Acioli