Reprodução fotográfica da pintura “No vento e na terra I”, em processo de produção, Porto Alegre, 1991.

Acervo Documental Fundação Iberê Camargo

Tombo F2439

“Um homem nu deitado na terra descansa. Há quanto tempo um homem não se deitava sobre a terra? Há quanto tempo a terra não servia de lugar de repouso, em que é possível simplesmente deitar? Voltar ao chão, sem ter para onde ir, só no espaço ambíguo, sem definição, sobre a terra e sob o céu, mais nada, é possível? Voltar a ficar na terra e no vento, é possível? É possível sentir novamente os elementos primeiros, tal como da primeira vez, nos mesmos lugares, diante das mesmas coisas, como nas primeiras paisagens? No vento e na terra é a resposta; só, junto aos elementos últimos, já que nada mais restou entre céu e terra.
A posição horizontal não deixa dúvida: o homem deitado liga terra e céu. Parece ser o último dos últimos dos autorretratos, para o qual nem ficar de pé é possível. Retrato após uma luta extenuante; derrubado ou deitado? Vencido ou vencedor? Se não é possível mais ficar em pé, deve-se deitar solitário e nu sobre o chão, a sós com céu e terra e mais nada. Como o último ou o primeiro entre terra e céu, caído sobre o desamparo, o cansaço, o esgotamento. Frente a tal grandiosidade vazia, não há mais por que ficar em pé, deita-se. […]”
VENANCIO FILHO, Paulo. Iberê Camargo: diante da pintura. Rio de Janeiro: Fundação Iberê Camargo, 2003. p. 81-83.

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