Reprodução fotográfica da pintura “Sombras”, no ateliê da rua Lopo Gonçalves, Porto Alegre, 1985.

Acervo Documental Fundação Iberê Camargo

Tombo F2646

“Nestas telas de 84 o que mais atrai o olho do espectador é o conflito entre a superfície da tela inteiramente burilada – constituindo assim o seu primeiro tempo – e a casualidade espontânea, por vezes caricatural, dos objetos e dos rostos gravados sobre esta pele experimentada (cansada de um saber pictórico) e vem caracterizar um segundo tempo, sobreposto ao primeiro. […]
No passado, o não-fechamento da composição conferia uma finitude ao trabalho pelo acúmulo das pinceladas gastas para a sua estruturação. Mas, de certa forma, o acúmulo de pinceladas limitava o risco. Nestas telas recentes o risco tiraniza a composição, é o negativo ou o oposto absoluto da pintura-pintura; é o desenho que de um modo ‘irritadiço’ vai dar forma ao quadro. O risco opera de modo a enfatizar, com seu voluntário primarismo, o primitivismo espontâneo do desenho de frente versus a aura civilizada do fundo. Dois tempos culturais diversos são, pois representados, como nos quadros dos jovens cultores transvanguardistas.”

GUINLE, Jorge. Os dois tempos e Iberê Camargo. Módulo, Rio de Janeiro, n. 82, set. 1984.

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