Em tempos de urgências climáticas, Fundação Iberê convida especialistas para discutir o tema a partir da exposição Iberê Camargo: Vivo como as árvores, de pé

30.nov.23

“Por uma consciência ecológica em tempos de urgências climáticas” ocorre no dia 9 de dezembro, das 14h às 18h, no auditório da Fundação Iberê. Entrada gratuita

 

A relação de Iberê Camargo com a natureza começou na infância, pisando as terras de Restinga Seca, sua cidade natal, com os pés descalços. Nunca se desapegou da paisagem da campanha porque via nela uma simplicidade e uma solidão que ressoavam com os seus sentimentos. Foi essa conexão com a terra de origem que embasou, mais tarde, a sua revolta com a exploração desenfreada dos recursos naturais.

Embora não se definisse como um ativista, Iberê era crítico ao descuido com o meio ambiente, a exploração e apropriação de recursos naturais, além da relação entre o progresso tecnológico e as consequências ambientais de tais avanços quando geridos de forma irresponsável: “Me sinto na obrigação de dizer um basta a este extermínio da natureza. Não por mim, mas pelas novas gerações que virão”, dizia.

Agora, a Fundação Iberê pretende avançar nas questões político-socioambientais ouvindo ativistas e especialistas no seminário “Por uma consciência ecológica em tempos de urgências climáticas – um debate a partir da exposição Iberê Camargo: Vivo como as árvores, de pé”, que acontece no dia 9 de dezembro (sábado), das 14h às 18h, no auditório.

“O debate é um desdobramento da exposição de Iberê Camargo, um diálogo a ser continuado não apenas através da visão do artista, mas como uma mobilização da sociedade em tempos tão complexos como o que estamos vivendo de mudanças climáticas extremas. Um tema abordado pelo pintor em sua produção desde a década de 1980”, destaca Gustavo Possamai, responsável pelo acervo da Fundação Iberê e curador da exposição Iberê Camargo: Vivo como as árvores, de pé, junto com o artista Thiago Martins de Melo.

O evento contará com as presenças de Iracema Gã Teh Nascimento, forte liderança indígena em Porto Alegre; Lara Lutzenberger, filha do ambientalista José Lutzenberger e presidente da Fundação Gaia; Heverton Lacerda, presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan); Paulo Backes, consultor em Sustentabilidade, Paisagismo e Educação Ambiental da Fundação Gaia; Clarice Oliveira, copresidente do IAB-RS e de Rualdo Menegat, geólogo e coordenador Geral do Atlas de Porto Alegre, além de depoimentos em vídeo de Paulo Flores, diretor do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, e de Alessandra Lehmen, especialista em direito ambiental.

Sobre a exposição
Thiago Martins de Melo foi convidado para fazer uma imersão na obra de Iberê Camargo e realizar a curadoria da exposição Vivo como as árvores, de pé em parceria com Gustavo Possamai, responsável pelo acervo do pintor gaúcho.

Iberê se preocupava com as questões político-socioambientais. Ele produziu obras e escreveu sobre o tema: “O homem é o único animal que destrói sua casa, sem pensar na continuidade da prole. Em nome do consumismo desvairado, o inconsciente coletivo da humanidade encaminha o mundo para o apocalipse.”

Defensor fervoroso da preservação da natureza e do desenvolvimento de uma “consciência ecológica”, Iberê dizia viver como as árvores, de pé. Embora não se definisse como um ativista, era crítico ao descuido com o meio ambiente, a exploração e apropriação de recursos naturais, além da relação entre o progresso tecnológico e as consequências ambientais de tais avanços quando geridos de forma irresponsável: “Falo apenas em nome da vida. Neste momento, o mais importante é ser claro, mesmo que repetitivo, para ser compreendido por todos.”

Nesta mostra, Martins de Melo e Possamai apresentam um recorte de 146 trabalhos, revelando um aspecto fascinante da personalidade e da obra de Iberê Camargo a partir do acervo da Fundação, além de três guaches da série “Ecológica (Agrotóxicos)” gentilmente cedidos por colecionadores. A série, criada por Iberê em 1986, foi produzida com a colaboração da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. Iberê os viu realizando no Parque da Redenção a intervenção cênica chamada A dúzia suja, em referência aos doze agrotóxicos mais prejudiciais ao ser humano e à fauna silvestre. Reproduzindo falas de José Lutzenberger, um dos mais renomados ambientalistas do país, o grupo alertava o público quanto ao uso indevido de agrotóxicos nas lavouras gaúchas.

Depois disso, a Terreira da Tribo, como era chamado o espaço do grupo, transformou-se em ateliê durante um final de semana, para que Iberê realizasse os desenhos com os atuadores caracterizados e posando. Entre as personagens estavam o indígena, o FMI, o Tio Sam, o DDT e o militar, entre outros. À época, declarou: “Simpatizo com este projeto. Veja só, já mataram o nosso Guaíba”, referindo-se à poluição do lago que delineia grande parte da cidade. Disse também: “O gato, que é onívoro como homem, sabe exatamente qual a erva que deve comer. Já o homem se envenena. Foi por isso que eu achei que deveria tomar como mestres da minha vida os animais.”

Vivo como as árvores, de inclui, ainda, uma série de falas do artista que mantém vivo o seu pensamento. “Com frequência, suas metáforas invocavam imagens da natureza e são um convite para olharmos mais de perto para o mundo finito que habitamos e para as conexões que mantemos com ele. Afinal, como dizia Iberê, ‘vivemos num universo que é o resto de uma grande fogueira e as estrelas são suas últimas brasas’”, diz o texto dos curadores.

 

Para saber mais sobre a exposição, acesse: http://iberecamargo.org.br/exposicao/ibere-camargo-vivo-como-as-arvores-de-pe/