Entrevista com Cláudio Mubarac

17.ago.18

Cláudio Mubarac é gravador. Além de estudar na ECA/USP, onde realizou sua graduação e seu doutorado, Mubarac foi bolsista do Atelier Tamarind Institute, nos Estados Unidos, do London Print Workshop, na Inglaterra, e o Civitella Ranieri Center, na Itália.

Foi professor da FAAP e coordenador do Atelier Livre de Gravura do Museu Lasar Segall. Atualmente, é professor na ECA/USP.

Entre as principais exposições coletivas que participou estão as realizadas em espaços como: Bienal Internacionala de Gravura (Eslovênia), Museu Lasar Segall, Museu de Arte de Portland (Estados Unidos), Bienal de San Juan del Grabado latino-americano y del Caribe, MAM/SP, MAM/RJ, MAC/SP. Entre as suas individuais, destacam-se as realizadas em: La Maison du Brésil (Bélgica), Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha (Alemanha), Espaço Sérgio Porto, entre muitas outras.

Acompanhe a conversa com o artista, realizada no ano de 2005.

Você é professor da universitário há anos, quais são os rumos que a gravura está tomando nas novas gerações?
Dei aulas na FAAP durante os últimos 20 anos, mas desde 2004 sou professor de desenho e gravura da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, tendo me afastado tanto da FAAP quanto do Ateliê de Gravura do Museu Lasar Segall. Sobre os rumos da gravura, não teria a pretensão de defini-los, já que nos meus quase trinta anos de carreira vi o interesse pela gravura crescer e diminuir com bastante constância. Mas, afora o sabor desses ventos, sempre houve e há pessoas interessadas em suas peculiaridades, em seu tempo típico de execução e, principalmente, na maneira como suas práticas ocupam o tecido das artes visuais, hoje e em todos os tempos da história.

Qual é o papel da linguagem da gravura na arte contemporânea?
Quando pensamos na gravura, devemos fazer uma distinção. Há a gravura como gesto, como sinal, como duração ligada a esse gesto e a esse sinal. E, assim, ela pode ser notada desde as mais antigas manifestações do ser humano enquanto vontade de guardar a memória desse índice material e simbólico. E há a gravura de estampa que, com o papel como suporte privilegiado, inaugura no século XV a civilização da imagem e da comunicação de massa. Se, se concorda com isso, a gravura está plenamente presente nas manifestações contemporâneas, tanto como fenômeno material quanto como vontade construtiva em essência, sempre que se pensa no duplo e na repetição como formas do pensar.

Como foi a sua experiência no Gabinete de Gravura em Londres e a sua aplicação aqui no Brasil?
Meus estudos foram feitos na Reserva do Gabinete de Estampas da Biblioteca Nacional de Paris. Em Londres, tive experiências com ateliês. Meus estudos no Gabinete, por exemplo, são a base de um curso sobre a gravura de estampa que ministro nesse semestre na pós-graduação da ECA-USP, já que tive oportunidade de conviver intensamente com os originais e muitos estudos comparativos sobre eles.

Onde você busca inspiração para os temas abordados em suas gravuras?
Nas referências que a própria gravura carrega e suas ligações com a História da Arte e, não com menos intensidade, nas estruturas físicas do nosso corpo em tudo o que é extenso e ele. Anatomia quer dizer incisão. E é através do sinal inciso e/ou estampado que tento construir minhas figuras, desenhar a gravura e o corpo ao mesmo tempo.

Como você vê a gravura de Iberê Camargo em termos de qualidade técnica e procedimentos? Qual a sua importância artística no Brasil?
A gravura de Iberê Camargo é muito importante para a nascente histórica da gravura brasileira. Costumo dizer que ele fez três viagens pelas possibilidades que a gravura de estampa oferece. Seu primeiro trabalho é arquitetado para que ele pudesse fazer gravura de gravador, com todo aquele cuidado e aplicação no conhecimento minucioso dos procedimentos técnicos. Num segundo momento, já nos anos sessenta, sua gravura cresce fisicamente e, senhora dos seus meios, aproxima sua experiência de pintor à da gráfica, realizando estampas de profundo sentido pictórico. Sua última produção dá voz ao grande desenhista que sempre foi e sua gravura se torna direta, simples na execução, com todas as qualidades típicas do gravador-desenhista. A gravura serve a ele como espelho de experiências, é referência e contraponto a sua obra como um todo e raramente é utilizada somente como reprodução, como sucedâneo da pintura e do desenho. Iberê faz gravura original, esse belo paradoxo fixado pelo século XIX.

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