ESPECIAL – A arte pela democracia do Grupo de Bagé

Roberta Amaral
04.nov.19

No dia 30 de novembro, a Fundação Iberê abre a exposição Os Quatro – Grupo de Bagé, em homenagem a Carlos Scliar (1920 – 2001), Danúbio Gonçalves (1925 – 2019), Glauco Rodrigues (1929 – 2004) e Glênio Bianchetti (1928 – 2014). Quatro artistas que visavam uma arte com função social e democrática, sempre pronta para denunciar as mazelas políticas e sociais, batendo direto em seu conceito dirigida ao ser humano.

Com curadoria de Carolina Grippa e Caroline Hädrich, a exposição vai ocupar dois andares com cerca de 180 trabalhos, oriundos de 24 instituições e acervos particulares de Bagé, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. “Contar a história do Grupo de Bagé é o objetivo principal da exposição, mas com uma nova e ampliada abordagem. Novas leituras e percepções acerca do trabalho dos quatro, frutos de estudos e documentários realizados por diversos pesquisadores, estarão refletidos no cenário da exposição. Não apenas trabalhos de Scliar, Danúbio, Glauco e Glênio, mas nomes como Lila Ripoll, Pedro Wayne e Clovis Assumpção aparecerão para contar mais sobre a trajetória e influências desses artistas”, diz Caroline.

A Fundação Iberê convidou quatro personalidades para escrever sobre a relação com o grupo, e, ao longo da semana, irá publicar textos de Luis Fernando Verissimo, Marcus Lontra, Luiz Coronel, Marília Panitz e Zeca Brito.

OS DE BAGÉ

Por Luis Fernando Verissimo 
Escritor

Três eram de Bagé – o Glênio Bianchetti, o Glauco Rodrigues e o Danúbio Gonçalves – e um era estrangeiro,  o Carlos Scliar de Santa Maria. O Scliar não demorou a se naturalizar bageense, e estava formado o quarteto. 

O que os unia era a arte – e a experiência  de ser artista numa cidade pequena. Mas Bagé não era uma  típica cidade do interior gaúcho. Tinha poetas, tinha vida intelectual, não era exatamente um desterro cultural que engoliria  os moços. Ajudava o fato de que a arte não só unia os quatro como os quatro tinham uma ideia comum do que a arte deveria ser, se não quisesse ser apenas decoração de interiores.  Desde os primeiros trabalhos publicados pelo Clube da Gravura, que os quatro fundaram, era evidente que uma preocupação com o social e um realismo consciente predominavam. 

O grupo se dispersou, mas na verdade nunca se separou. O Glênio e o Danúbio mudaram-se para Porto Alegre. O Glauco foi para o Rio e o Scliar, para o mundo. O Glênio acabou em Brasília, onde foi um dos primeiros a chegar e viveu até o fim. O Danúbio permaneceu em Porto Alegre. O Glauco, no Rio,  conquistou uma reputação internacional com uma obra colorida e brilhante na qual nunca faltou a estocada crítica. Scliar teve a vida mais aventurosa dos quatro – esteve até na guerra contra o fascismo.

Os quatro de Bagé já morreram. Ficaram a obra de cada um e a mística de uma irmandade que atravessou o tempo sem nunca esmaecer. Onde quer que estivessem, os quatro nunca se separaram.

(Nesta terça-feira, o curador Marcus de Lontra Costa escreve sobre Carlos Scliar)