De Chirico: o sentimento da arquitetura – obras da Fondazione Giorgio e Isa de Chirico

Curadoria

Maddalena d'Alfonso

09.dez

04.mar.12

Giorgio de Chirico é um mestre do século XX, embora este tenha sido o século em que a pintura se voltou para novas pesquisas formais, com o cubismo, o abstracionismo e, depois, o neoplasticismo, os quais abriram caminho à arte informal do segundo Pós-Guerra. Ele se concentra, na representação figurativa e nos significados a serem atribuídos às imagens: síntese de figura e forma em contínua oscilação entre valor semântico, iconográfico, simbólico. Para ele, a questão da arte reside no papel central a ser confiado à imagem a fim de produzir conhecimento suscitando uma indagação sobre a realidade.

Sua pesquisa artística nutre-se de filosofia e, para restabelecer a potência e a verdade da representação, o artista aprofunda a técnica pictórica e do desenho estudando os mestres do passado. Ele inspirou-se nas teorias de A. Schopenhauer e de F. Nietzsche chegando no conceito da Arte Metafísica: a arte capaz de revelar a obviedade das coisas e de mostrar o sem sentido da busca de um mistério que esteja além das coisas reais. O mistério é sentimento, percepção e psicologia: é o próprio homem, sua habilidade criativa em produzir artefatos e formas – inclusive sociais –, sua capacidade de atribuir significado ao mundo através de uma narrativa.

O homem é o grande construtor e o grande metafísico, e a cidade representa o artefato por excelência: o fruto da civilização que não é possível recusar, uma constante na história. Por isso a cidade é o tema principal de suas obras, como se ele devesse desvelar sua raiz etimológica, civitas, a mesma de civilização. Trata-se de uma cidade em que o indivíduo moderno é o sujeito dotado simultaneamente de psyché e téchne (alma e arte, em latim), e revela no ato criativo, a aparente normalidade das coisas. A cidade se torna, então, um lugar da memória onde não só se fundam temas, argumentos e ideias, mas também onde os pensamentos, sintetizados em imagens, se transmudam em sentimentos complexos. Nela coexistem quer a cidade moderna, essa das praças, em cujo horizonte exala o vapor de uma locomotiva, ou em cujo centro impera uma lânguida Ariadne; quer a cidade clássica, aquela do eterno retorno e do enigma; quer a cidade hermética, das aproximações poéticas e delirantes suscitada do sonho e da memória (como o filho pródigo entendido como a arte que retorna aos clássicos); quer, enfim, a cidade metafísica, que revela a potência da forma e confere significado aos objetos menores.

Conquanto seja impossível distinguir sempre com exatidão os diversos signos das cidades, o conjunto de sua produção final, exibido em parte nesta mostra, torna possível entender como a reflexão constante e cíclica sobre as mesmas questões filosóficas e os mesmos temas artísticos está no centro da obra dequiriquiana, fazendo do Pictor Classicus um incansável perquiridor do homem moderno.

Maddalena d’Alfonso

 

Imagem: Vista parcial da exposição “De Chirico: o sentimento da arquitetura – obras da Fondazione Giorgio e Isa de Chirico”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 09 de dezembro de 2011 a 04 de março de 2012. Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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