Filmes e vídeos de artistas na coleção Itaú Cultural

Curadoria

Roberto Moreira S. Cruz

07.nov

21.fev.16

A produção de filmes e vídeos no Brasil, realizada por artistas e com proposta experimental, se inicia no país em consonância com a produção contemporânea internacional, ainda nos anos 1970. Esta fase primeira, de descobertas e tentativas de forjar um modo criativo para o audiovisual, foi ainda mais tortuosa e de certa forma marginal, pela inexistência de um mercado que pudesse dar visibilidade a esta produção e ocultada pelo cenário cultural brasileiro, submetido à censura da liberdade de expressão, imposta pelo regime militar. Os filmes e vídeos mais originais e inventivos, realizados neste contexto, permaneceram durante muito tempo desconhecidos do público e praticamente abandonados nas gavetas dos estúdios e ateliês dos próprios artistas.

Somente duas décadas depois, mais especificamente a partir de meados da década de 1990, é que se pode considerar que parte desta produção passa a ser parcialmente reconhecida, com a inserção de obras audiovisuais no contexto da arte contemporânea e com a presença marcante de alguns artistas que trabalham com audiovisual em galerias e exposições de amplitude internacional.

A Coleção de Filmes e Vídeos do Itaú Cultural é uma contribuição pioneira por parte de uma instituição cultural. Formaliza, através da aquisição, conservação e restauração, a constituição de um acervo permanente de obras audiovisuais, produzidas no país nas últimas cinco décadas.
Alguns aspectos motivaram a formação desta coleção e valem ser destacados. O primeiro, talvez o mais fundamental, propõe resgatar a importância da produção pioneira, trazendo ao olhar contemporâneo a força inventiva destas imagens. Remasterizando e recuperando filmes e vídeos de artistas como Rubens Gerchman, Nelson Leirner, Letícia Parente, Regina Silveira, entre outros, a coleção visa conservar obras passíveis de deteriorização, pela própria obsolescência da tecnologia. Por estes aspectos, esta coleção pode ser compreendida como um acervo audiovisual, pois acredita na preservação de bens culturais, constituindo-se neste sentido num patrimônio histórico inestimável.
O segundo aspecto aproxima a coleção das novas gerações de artistas que trabalham com o audiovisual, e que criam através deste instrumental de sons e imagens, linguagens muito específicas. Estas obras não são expressamente cinematográficas e, muitas delas, podem parecer estranhas aos olhos de um espectador menos comprometido. Nelas, o tempo da projeção pode ser indeterminado, o filme pode não ter princípio, meio e fim, mas em todas, indelevelmente, o que prevalece é o cinema em sua totalidade de significados.

Roberto Moreira S. Cruz

 

Imagem: Vista parcial da exposição “Filmes e vídeos de artistas na coleção Itaú Cultural”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 07 de novembro de 2015 a 21 de fevereiro de 2016. Foto © Nilton Santolin

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