Iberê Camargo: estruturas do gesto
Curadoria
Raphael Fonseca, Tiago Sant'Ana e Yina Jiménez Suriel

Ao longo dos seus mais de 50 anos de produção, é impossível passar incólume à obra de Iberê Camargo quando pensamos num panorama histórico da Arte Brasileira. O desdobramento de sua poética ao longo de distintas linguagens atesta a multiplicidade e perspicácia do artista naquilo em que foi mais pródigo: a experimentação matérica através de uma liberdade gestual muito característica, marcada pelos tons terrosos e por certa inclinação para uma atmosfera que flerta tanto com um olhar mais voyeurista para o cotidiano quanto para um ambiente mais soturno e melancólico.
Uma das características que são caras para o argumento desta mostra é a ideia da repetição de um mesmo elemento que se desdobra no ensejo de elaboração de uma impressão de movimento. Assim, em “Estruturas do gesto” é apresentada uma justaposição de obras em que o movimento e o deslocamento servem tanto como metáfora quanto como estratégia, embaralhando qualquer pretexto em desenhar uma linha cronológica em prol de um interesse e de uma mirada mais conceitual sobre a obra do artista, focada numa proposta de experimentação formal.
O movimento – entendido como uma variação física de um corpo, provocando uma trajetória do seu ponto inicial até um outro diferente deste primeiro – é uma tática utilizada por Camargo na tentativa de criar um dinamismo em suas obras. As obras elencadas na exposição nos levam por um caminho para sentir que a riqueza das obras de Iberê Camargo reside justamente na maneira como a sua memória e o seu traço sustentam, sem remorsos, estruturas que fazem uma ode ao gesto, que capturam, sem aprisionar, um determinado momento, feito à maneira de alguém que tem consciência de que o tempo é fugidio. Essas obras dão a ver que é no deslocamento e na fugacidade que residem os reveses do viver.
Raphael Fonseca, Tiago Sant’Ana e Yina Jiménez Suriel
Curadores
Imagem: Iberê Camargo. Sem título, 1970. Foto © Fabio Del Re_VivaFoto