Iberê Camargo: NO DRAMA

Curadoria

Eduardo Haesbaert

18.maio

31.dez.17

Ainda hoje, passados 21 anos da abertura da Fundação que leva seu nome, Iberê Camargo permanece relativo enigma a pesquisadores e admiradores de sua obra. Suas biografia e trajetória artística constituem uma zona cinzenta, cuja plasticidade de tintas indevassáveis nos permite intuir a carga dramática que banhou ambas esferas de sua brilhante passagem pelo século XX.

NO DRAMA, exposição pensada pelo artista Eduardo Haesbaert, que com o mestre conviveu, como seu assistente, em sua última e mais penosa quadra de vida, expõe uma faceta do artista pouquíssimo conhecida pelo público comum, a qual raras vezes é trazida à luz do dia. Permanecendo, assim, apenas na turva memória daqueles que gozaram de sua enérgica e sanguínea companhia.

Esta mostra não apenas apresenta elementos e trabalhos que sinalizam o próximo convívio mantido por Iberê com personagens caras às artes dramáticas, como também exibe obras cujo teor ora solar, ora soturno a caracterizar a produção do artista faz-se sentir de forma figurativa e contundente. Por vezes mesmo sonora, reboando pelas sólidas e implacáveis paredes projetadas pelo arquiteto Álvaro Siza.

São telas, painéis, fotografias e estudos, e mesmo um vestido, os quais reverberam o dinamismo de um artista que, malgrado o semblante casmurro, fazia dos sábados em sua casa, e de suas sessões de pintura, momentos de ilustração, intimidade e diversão, reveladores de uma alma deveras curiosa, ruidosa, atenta e sofrida. Iberê, um ator sempre em performance no ato de sua pintura.

Como síntese da carga dramática presente na biografia e na trajetória artística de Iberê, a obra O Delírio, um guache que confronta o público com a face do sonho e do pesadelo que embalam nossas noites, mas também nossas vidas, em suas toadas imprevisíveis e sempre absurdas quando os dias chegam ao fim.

Bernardo José de Souza

 

Imagem: Registro da performance de Jairo Klein na abertura da exposição “Iberê Camargo: NO DRAMA”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 18 de maio a 31 de dezembro de 2017. Foto © Nilton Santolin

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