Iberê Camargo: os meandros da memória

Curadoria

Jacques Leenhardt

02.out

03.abr.11

Este título remete ao clima de nostalgia que impregna toda a obra de Iberê Camargo. As imensas paisagens solitárias do Rio Grande do Sul de sua infância imprimiram-se em sua memória, com os trilhos do trem fugindo para o longe e os fios da rede telefônica pontuando espaços sem limite. Esta solidão é para ele como a metáfora da solidão humana, a solidão de um andarilho que avança por uma estrada rumo a um horizonte cada vez mais distante. O passado, tão caro, é uma ferida para sempre aberta.

Através do encontro com De Chirico, cujo período “metafísico” ele descobre em Roma, Iberê encontra vários temas que já lhe são familiares e outros cuja melancolia ele próprio desenvolverá: a estrada de ferro, a chaminé da usina, o carretel ou o manequim.

O manequim: este duplo ambíguo do homem, dividido entre vida e mecânica, bem como o ciclista condenado à velocidade, condição de seu equilíbrio, sempre alcançado pelo tempo e pelo espaço que fogem diante dele e a ele escapam.

A obra de Iberê, nos últimos anos, torna-se compulsivamente prolífica: pinturas, desenhos, guaches, mas também narrativas irônicas ou burlescas, como se a atividade artística fosse a única escapatória à tragédia da vida. Após um passado quase formal, sua pintura torna-se expressionista, no limite do gestual, violenta e grotesca como um carnaval alucinado.

Jacques Leenhardt

 

Imagem: Vista parcial da exposição “Iberê Camargo: os meandros da memória”, que esteve em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 02 de outubro de 2010 a 03 de abril de 2011. Foto © Mathias Cramer

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