Rodrigo Andrade – Pintura e Matéria

Curadoria

Taisa Palhares

27.ago

04.dez.22

A exposição “Rodrigo Andrade – Pintura e Matéria” reúne uma seleção de pinturas do artista brasileiro Rodrigo Andrade, realizadas da década de 1980 até o presente, com intuito de apresentar pela primeira vez na Fundação Iberê uma visão ao mesmo tempo ampla e precisa de sua produção dos últimos trinta anos. Como outros artistas que iniciaram sua carreira no início dos anos 1980, Andrade foi marcado pelo movimento de “retorno à pintura”. A exposição evidencia a maneira visceral pela qual ele se dedicou à essa linguagem, sem deixar de colocar em tensão seus limites estabelecidos ao longo dos últimos anos. 

O percurso é organizado em três tempos: dos primórdios de seu trabalho, ainda no âmbito do ateliê “Casa 7”, às grandes telas realizadas a partir de imagens fotográficas que Andrade começa a pintar em 2009, a partir da série “Matéria Noturna”, apresentada na 29a Bienal Internacional de São Paulo (2010). Uma das salas é dedicada às telas  “abstratas” que são realizadas pela aplicação com máscara de volumes densos de tinta a óleo em formas geométricas simples sobre a superfície da tela, em geral branca e sempre em pares. O intuito é evidenciar o movimento espiral que baliza sua produção. Por isso, não se trata de dividir sua trajetória em fases ou estilos fixos, mas compreendê-la como a retomada, sempre por novos ângulos, de problemas centrais para o fazer artístico em seu embate com o mundo contemporâneo.  

De um modo geral, Rodrigo Andrade se interessa em explorar, mediante trabalhos de aparências díspares, as relações profícuas, e nem sempre apaziguadas, entre matéria e expressão, gestualidade e repetição, colocando em questão o caráter de “pureza” da arte e sua inevitável contaminação pelo entorno, seja por meio da cultura de massas, seja pela criação de uma linguagem que se apropria do cinema, da fotografia, do graffiti e da história em quadrinhos. Por fim, nota-se que Andrade mantém desde sempre um diálogo profícuo com os gêneros da história da pintura por meio da reflexão sobre a construção da paisagem, de cenas urbanas e de interiores que nos remetem a temas clássicos da arte. Curiosamente, no entanto, eles surgem pela apropriação de registros produzidos despretensiosamente pelo artista, ou mesmo a partir de imagens retiradas de alguns de seus filmes preferidos, como lembranças de um modo de olhar característico de uma tradição de mais de 500 anos. Mas antes de parecerem fantasmas ou fantasmagorias de um mundo esvaziado pela virtualidade da cultura contemporânea, essas pinturas reencenam o jogo entre a matéria bruta e a ilusão, o choque entre a força do concreto e o poder do imaginário, que para Rodrigo Andrade é o lugar de existência possível para arte. 

Taisa Palhares

 

Imagem: Rodrigo Andrade. Chegada do Tsumani, 2014. Foto © Eduardo Ortega

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