Tarik Kiswanson – Fora do tempo

Curadoria

Jean-Marc Prévost

30.ago

01.mar.26

Fora do tempo marca a primeira exposição individual institucional de Tarik Kiswanson no Brasil – e a primeira apresentação de sua obra no país. A mostra reúne um conjunto de obras em escultura, desenho e vídeo, destacando uma prática multidisciplinar fundamentada em noções de transformação e memória.

A exposição se inicia com o vídeo The Fall [A queda] (2020), uma obra contemplativa, que mostra um garoto caindo lentamente para trás em uma sala de aula vazia. Em um estado de levitação entre o equilíbrio e o colapso, esse momento suspenso – ao mesmo tempo íntimo e desconcertante – reflete uma noção recorrente na obra de Kiswanson: a da criança no limiar da adolescência.

No centro da exposição estão as esculturas levitantes intituladas Nest [Ninho] (2020-2023) e Cradle [Berço] (2020-2024). Essas formas de brancura imaculada, semelhantes a casulos, sugerem o aparecimento iminente da vida – um nascimento, um renascimento. As esculturas, que constituem um motivo recorrente e profundamente simbólico na prática do artista, evocam os grandes ciclos da natureza, mas também podem ser compreendidas como lugares de refúgio e abrigo. Sua presença física sugere uma força inerente – capaz de romper hierarquias e desestabilizar a ordem estabelecida.

Os desenhos do artista aparecem ao longo da exposição. Alguns retratam crianças pairando no limiar da visibilidade, enquanto outros surgem como formas ovais borradas, lembrando nuvens ou núcleos de energia. Construídos a partir de sucessivas camadas de carvão, os desenhos refletem a contínua investigação da artista sobre o corpo e seu lugar no mundo: sua transformação, sua dissolução, sua ausência e sua renovação. Ao mesmo tempo materiais e metafísicos, eles evocam o conceito de opacidade de Édouard Glissant – uma influência formadora para o artista desde seus primeiros anos como estudante.

Esvanecendo a linha entre memória pessoal e história coletiva, as obras da série Recall [Recordação] (2020-2025), de Kiswanson, refletem sobre temas como migração e lembrança. Essas esculturas inquietantes, dispostas no chão e reminiscentes de lápides translúcidas, partem diretamente da história de sua família, ao mesmo tempo em que ressoam com experiências diaspóricas mais amplas. Por meio de sua presença etérea, convidam o público a pensar sobre como histórias íntimas podem espelhar narrativas culturais compartilhadas de deslocamento e perda.

A prática de Kiswanson articula uma poética da transição. Ainda que enraizada na experiência pessoal, sua arte transcende o autobiográfico para abordar dinâmicas mais amplas da memória coletiva e da transmissão cultural. Suas obras funcionam como recipientes de lembrança – formas que carregam vestígios tanto de trauma quanto de regeneração. Ao fazê-lo, refletem sobre a condição humana como algo moldado não pela estabilidade, mas por uma negociação contínua entre passado e presente, entre si mesmo e o outro, entre presença e ausência.

Jean-Marc Prévost
Curador

 

Imagem: Tarik Kiswanson. Cradle [Berço], 2023. Foto © Roberto Ruiz