Fundação Iberê fecha o ano com um recorte de esculturas que marcaram a trajetória de José Resende

09.nov.21

Em um ano de pandemia, respeitando todos os protocolos e, mais recentemente, exigindo o comprovante de vacinação, o centro cultural abriu nove exposições de artistas locais, nacionais e internacionais, como o estilista japonês Tomo Koizumi

 

No dia 13 de novembro, sábado, a Fundação Iberê abre a nona e última exposição de 2021Na membrana do mundo, do paulista José Resende. Esta é a primeira vez que Porto Alegre recebe um conjunto significativo de obras – produzidas entre 1974 e 2018 –, que marca a trajetória do artista. As visitas ocorrem das 14h às 18h (última entrada) e, excepcionalmente até o dia 15 de novembro (feriado), os ingressos têm valor único de R$ 5. Os agendamentos devem ser feitos pelo Sympla.

Em mais de 50 anos dedicados às artes plásticas, uma das principais características de Resende é a apropriação de materiais comuns e sua ressignificação em instalações com uma forte densidade poética e grande potência visual. Ao todo, serão apresentadas 18 esculturas de grandes dimensões misturando diversos materiais, como parafina, feltro, aço, ferro, chumbo, latão, cobre, madeira, pedra, borracha, que têm ao mesmo tempo o desafio de fazer um trabalho com humor, tensão, oposições de sentido e movimento latente. Uma delas, ficará na área externa da Fundação, em diálogo com a arquitetura do prédio.

“Os materiais encontrados nas obras são aqueles que habitam de forma anônima o dia a dia dos espaços urbanos. Aqui, estão sempre em contato um com o outro, instaurando uma cadeia de vizinhanças fecundas: quente/frio, líquido/sólido, rígido/mole, opaco/transparente, liso/áspero. Articulados, formam esculturas que possuem uma natureza construtiva capaz de endereçar perguntas para o olhar. Se na vida diária as nossas retinas são inundadas por imagens que parecem aportar mais certezas do que dúvidas, com cada trabalho de Resende ocorre o inverso. Diante deles uma espécie de desconcerto nos atravessa e somos interrogados por aquela forma que não encontra paralelo no mundo, pois fruto de um ato poético que inaugura um imaginário singular a partir do que se encontrava até então adormecido no prosaico cotidiano”, destaca a curadora Luisa Duarte, que tem entre seus trabalhos as exposições “Adriana Varejão – Por uma Retórica Canibal”, no Museu de Arte Moderna da Bahia, e “Tunga – o rigor da distração”, a primeira grande mostra no Museu de Arte do Rio após a morte do artista, em 2016, além do livro ABC – Arte Brasileira Contemporânea, organizado com Adriano Pedrosa.

Sobre José Resende
Formado em Arquitetura pela Universidade Mackenzie (São Paulo), em 1963 começou a cursar gravura na FAAP e a estudar com Wesley Duke Lee. Enquanto estagiava no escritório do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em 1966, fundou com os artistas Nelson Leirner, Wesley Duke Lee, Geraldo de Barros, Carlos Fajardo e Frederico Nasser a Rex Gallery and Sons. Em 1970, fundou com Fajardo, Nasser e Luís Baravelli o centro de experimentação artística Escola Brasil, onde lecionou por quatro anos.

Ao longo de sua carreira, José Resende desenvolveu uma atuação pungente dentro do debate da arte e da cultura no Brasil, sobretudo entre 1960 e 1980, época em que o país estava sob o jugo da ditadura militar. A partir da década de 1990, desenvolveu inúmeros projetos, permanentes e temporários, especialmente para espaços urbanos. Destacam-se: a ação efêmera em que orquestra o empilhamento de blocos de granito em uma edição do Arte/Cidade em 1994, em São Paulo; o Marco dos 100 milhões de toneladas em 1997, em Volta Redonda; a peça apelidada de Centopeia, inicialmente concebida para Avenida Paulista e que atualmente reside no Parque Ibirapuera; os três pares de vagões suspensos às margens da Radial Leste, em São Paulo, para a edição de 2002 do Arte/Cidade e o mirante de 23 metros que avança sobre o lago Guaíba, em Porto Alegre, produzido na ocasião da V Bienal do Mercosul e intitulado Olhos Atentos.

Assumindo diferentes dimensões e formas através dos tempos e trabalhando com materiais de natureza distintas, como a parafina, o concreto, o vidro e o aço, o próprio artista identifica três tendências marcantes em sua produção: entre 1970 e 1980, trabalhos constituídos de materiais como placas de metal, pedra, tubos, fios ou cabos que traçavam linhas, vetores e construíam planos a fim de desafiar a geometria do espaço expositivo; nos anos seguintes, trabalhos com materiais que assumem diferentes funções a partir da transformação de seus estados, como materiais líquidos que, ao se solidificarem, ganham outra forma e maleabilidade; e, por fim, um terceiro momento, em que substitui a forma obtida pelo acaso através de uma maior intencionalidade em seu desenho, o que em alguns casos estabelece, inclusive, uma espécie de retomada ao teor figurativo presente nos seus primeiros trabalhos. Se considerarmos as obras presentes na sua maior individual realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2015 – como Duas vênus deitadas (2015), Dobras (2015) e Sorriso (2015) – esse último momento apontado pelo artista parece ainda estar em curso.

Além de expor diversas vezes na Bienal Internacional de São Paulo (9ª, 17ª, 20ª e 24ª) e em importantes instituições nacionais e internacionais ao longo dos seus quase 60 anos de carreira, seus trabalhos figuram em importantes coleções públicas como MoMA (Museum of Modern Art), Museu de Arte Moderna de São Paulo e Pinacoteca do Estado de São Paulo.

SERVIÇO | EXPOSIÇÕES
Nemer – aquarelas recentes
Curadoria: 
Agnaldo Farias
Exposição: Átrio
Visitação: até 19 de dezembro de 2021

Iberê Camargo: Tudo te é falso e inútil
Curadoria: 
Lilian Tone e Lucas Arruda
Exposição: Segundo andar
Visitação: até 30 de janeiro de 2022

Lucas Arruda: Lugar sem lugar
Curadoria: 
Lilian Tone
Exposição: Terceiro andar
Visitação: até 16 de janeiro de 2022

Na membrada do mundo
Curadoria: 
Luisa Duarte
Exposição: Quarto andar
Visitação: até 6 de março de 2022

Horários: 14h às 18h (última entrada)
Obrigatório o comprovante de vacinação
Às quintas-feiras, as visitas são gratuitas e por ordem de chegada. De sexta a domingo, devem ser agendadas pelo Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/66447/d/88776

  • Visita mediada individual Inteira: R$ 20
  • Visita Individual para estudantes, idosos até 65 anos e profissionais da saúde: R$ 10
  • Visita para duas pessoas: R$ 30
  • Visita para duas pessoas + catálogo: R$ 40